A vida de Kana Harada entrou em uma nova fase na última sexta, 26. A estudante de 18 anos concluiu o ensino médio e não precisa mais acordar cedo para sair de sua casa em Shirataki, uma vila de apenas 36 habitantes no norte do Japão, para pegar o trem e ir a seu colégio, em Engaru. Um marco para a garota, e também o fim de uma história que pareceria realismo fantástico se não fosse no Japão. Afinal, a formatura marca o fim de operação da estação de Kyu-shirataki.
A história de Harada se espalhou pelo mundo após uma postagem no Facebook da CCTV, maior canal da China. Havia algumas imprecisões no texto, como o nome da estação, mas o principal estava certo: em julho de 2015, a Japan Railways, empresa que gerencia o sistema ferroviário japonês, havia decidido fechar diversas estações antigas e pouco movimentadas em regiões remotas do Japão. A Kyu-shirataki era uma das indicadas para o corte, mas o governo percebeu que havia uma passageira regular: Kana, que pegava o trem todo dia para ir e voltar da escola. Sem o trem, a garota teria de caminhar por mais de uma hora até chegar a uma estação em um ramo mais moderno da rede ferroviária.
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Para poupar a estudante e aproveitando que seu ano fiscal se estenderia até março, a JR resolveu manter a estação aberta para permiti-la seguir seus estudos normalmente. O trem passava apenas duas vezes ao dia, casando com os horários do colégio. Um esforço louvável, ainda que a falta de alternativa tenha limitado a vida extraclasse da garota, que não podia participar de atividades vespertinas com os colegas.
Com a conclusão dos estudos de Harada, não há mais passageiros regulares para a Kyu-shirataki. Por isso, a estação foi fechada nesta semana, junto com outras duas na região: Shimo-shirataki e Kami-shirataki. Um momento particularmente simbólico na transformação do que resta do Japão rural no país moderno e dinâmico.
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No mesmo dia em que viu o final de três estações antigas no interior, a ilha de Hokkaido celebrou a chegada do trem bala. A linha que liga Aomori, em Honshu, com Hakodate, em Hokkaido, foi inaugurada após 11 anos de obras na adaptação do túnel de 23,3 km que liga as duas ilhas. Sapporo, maior cidade do norte japonês, ainda não é atendida, mas já é possível ir de Tóquio a qualquer ponto nas quatro grandes ilhas do Japão por trilhos.
A chegada do shinkansen foi bastante saudada, mas não ofuscou os lamentos pelo fim da Kyu-shirataki. Após a história de Kana Harada se espalhar pelas redes sociais, a estação virou uma atração, sobretudo para moradores da região e entusiastas do sistema ferroviário. No dia da última passagem do trem, várias pessoas foram se despedir. A JR montou tendas, oferecendo leite e batata doce para aquecer os visitantes no dia gelado.
Foi um momento sentimental para os moradores da região. Um deles levou uma faixa para expressar o quanto aquela estação significou para a comunidade e por se manter aberta para que todos pudessem concluir seus estudos: “Kyu Shirataki-eki, 69-sai, arigato”, ou “estação Kyu-shirataki, obrigado pelos 69 anos!”
Obs.: a tradução da faixa foi modificada por sugestão do leitor João Pedro Pupo. Os detalhes dela estão aqui abaixo, no espaço de comentários.