O que é? O Boraplantar realiza mutirões para o plantio de árvores em áreas de reservatório. Eles chamam as pessoas pelas redes as levam para uma área de São Paulo predominantemente rural para ajudar a repor, árvore a árvore, a mata ciliar que é fundamental para preservar a água dos rios que correm por lá.

Plantar uma árvore, proteger um rio

O primeiro mutirão do Boraplantar foi organizado como uma ação em protesto contra a aprovação do Código Florestal Estadual de São Paulo, em dezembro de 2013.  Na ocasião 300 mudas de árvores foram plantadas em Parelheiros, no extremo sul da capital paulista, próximo às represas Billings e Guarapiranga. Desde então, todo mês o projeto leva pessoas interessadas na preservação ambiental para ajudar na reposição da vegetação local.

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O Boraplantar leva voluntários para plantar árvores em áreas próximas das represas Billings e Guarapiranga (foto: Facebook)

A chamada para voluntários é feita pelas redes sociais do Boraplantar e pelos parceiros do Movimento Urbano de Agroecologia de São Paulo, que incentiva a produção de alimentos na área urbana e que também já foi pauta aqui no Outra Cidade. A meta dos mutirões não é fazer reflorestamento ambiental, mas promover a preservação das regiões de manancial por meio de uma ação prática que tem caráter simbólico.

Os mutirões impactam não apenas as pessoas que participam, mas também os moradores locais. Ver que tem gente de fora interessada em preservar aquela área estimula os proprietários rurais a manter a vegetação existente.

Regiane Nigro, voluntária do Boraplantar

Regiane faz questão de lembrar que cada árvore é única e o plantio de novas árvores não é capaz de oferecer compensação ambiental proporcional a perda da vegetação nativa causada pelo desmatamento. No último mutirão, no dia 31 de outubro, os voluntários presenciaram o corte de uma paineira centenária, que estava sendo realizado por uma construtora com autorização da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente. A árvore estava em uma área de Parelheiros onde será construído um centro comercial. É possível ver o tronco sendo cortado nos primeiros segundos desse vídeo feito pelos Jornalistas Livres.

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Paineira sendo derrubada em Parelheiros para a construção de um centro comercial (foto: Jornalistas Livres/Facebook)

Os proprietários rurais de terrenos por onde passam rios são obrigados por lei a manter uma faixa de mata ciliar de área proporcional à largura do leito de cada um, chamada de Área de Presevação Permanente. Como muitos não possuem recursos para recuperar sozinhos as margens dos rios que passam por suas propriedades, eles recebem o pessoal do Boraplantar e se comprometem a cuidar das mudas para que elas tenham um desenvolvimento saudável. O Instituto Kairós, que promove o consumo sustentável e realiza ações em conjunto os produtores orgânicos de Parelheiros, faz a ponte entre essas pessoas e o projeto. Cada mutirão tem uma média de 20 a 30 participantes por edição e duas das áreas onde o projeto atua já estão com próximas da recuperação completa de suas APPs.

Nós vamos até lá e plantamos as árvores. Os moradores contam um pouco da história do lugar, fornecem ferramentas e ajudam na mão-de-obra. Depois eles ficam responsáveis pelos cuidados necessários para que elas cresçam. É uma parceria.

Regiane Nigro, voluntária do Boraplantar

 Se somadas as árvores plantadas em todos os mutirões já organizados pelo Boraplantar, são mais de 1200 exemplares de espécies nativas da mata atlântica repostos.  As mudas são doadas e transportadas pela casa de agricultura e os custos para o levar os voluntários até o local de plantio é dividido entre os participantes. Atualmente uma campanha de arrecadação de fundos está aberta no Catarse para plantar mais mil mudas de árvores na região de Parelheiros. O plantio será dividido em três mutirões, ainda sem data marcada.

O Sistema Guarapiranga, que tem alguns de seus afluentes correndo por Parelheiros, é hoje o responsável por abastecer a maior parcela da população na capital paulista, que enfrenta uma crise hídrica com seus principais reservatórios operando em níveis críticos. As ações do Boraplantar demonstram que é possível fazer algo pelos mananciais além de acompanhar a previsão do tempo, esperando pela próxima chuva.