por Mirian Blasberg

No início era somente uma mensagem curta, um tanto enigmática, que parecia ter saído de um arquivo do século 19 e parado ali por engano. Em 15 de fevereiro de 2014, a Folha de São Paulo publicou uma matéria sobre dois bolivianos que, recém-chegados à maioridade, seriam vendidos como escravos numa feira livre de São Paulo na tarde de segunda. De acordo com testemunhas, os dois rapazes foram oferecidos pelo dono de uma oficina de costura aos transeuntes. Durante o processo as negociações esquentaram por divergências sobre o preço, já que o proprietário da oficina, também boliviano, insistia no valor de US$ 500 por cabeça. A situação ficou ainda mais tensa, pois moradores da região indignados tentaram libertar os dois jovens.

Ao lado da matéria havia ainda uma série de informações, da qual se extraíam alguns números. As autoridades estimam que somente na região de São Paulo vivem em torno de 300 mil bolivianos, sendo provável que a maioria, assim como os dois jovens, trabalha ilegalmente em pequenas oficinas de costura. As informações são de que nos últimos anos investigadores de uma unidade especial resgataram da condição análoga à escravidão várias centenas destes trabalhadores, empregados de fornecedores de grandes marcas da moda como Zara e Gap.

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