Debates e mais debates, reuniões públicas, assembleias e muita discussão. Há mais de um ano o governo da cidade de Washington tenta finalizar o projeto de ciclofaixas para a área leste do centro. A ideia é criar corredores no sentido norte-sul para os ciclistas, ligando dois, já instalados, no sentido leste-oeste. Como é comum nessas conversas, há vários opositores à ideia. Normalmente se alega piora no tráfego, impacto no comércio local ou custo de implantação. Mas, no caso da capital dos Estados Unidos, o problema é afetar a “liberdade de religião”.
Foi essa a alegação apresentada pela United House of Prayer for All People (Uhop, ou “Casa Unida das Orações para Todas as Pessoas”, em tradução livre) ao conselho municipal para não apenas rejeitar a ciclofaixa, mas também colocá-la como inconstitucional. O motivo é que duas das ruas que teriam espaço exclusivo para bicicletas passam ao lado do quarteirão da igreja.
O principal alvo é o corredor da rua 6, utilizada pelos fieis da Uhop para estacionar seus carros. Nos dias mais movimentados, é comum parar o carro em 45º para ganhar ainda mais espaço. A proposta inicial do corredor para ciclistas não eliminaria necessariamente a possibilidade de se estacionar na rua, mas impossibilitaria o estacionamento a 45º e diminuiria uma das faixas para a circulação de carros.
De acordo com a Uhop, a obra simplesmente não é necessária. “Bicicletas circulam livremente e com segurança no Distrito de Colúmbia em todos os 90 anos de história da United House of Prayer, sem nenhuma faixa protegida para bicicletas e sem infringir os direitos religiosos da igreja”, argumenta a instituição na carta apresentada à administração da capital americana. Um pastor chegou a dizer que a ciclofaixa era um câncer que destruiria a igreja.
O protesto da Uhop foi apresentado em setembro de 2015. A discussão sobre os corredores norte-sul se arrasta desde então. O município se comprometeu a apresentar as três propostas finais para análise pública entre fevereiro e abril deste ano. Ainda não o fez.