O Brasil vive um momento particular de sua história recente. Nos últimos anos, milhões de pessoas foram às ruas defender as mais diversas causas, mas principalmente pedir por mudanças para melhorar o país. Essa participação da população é fundamental, pois reforça o sentido de comunidade dos indivíduos e o quanto eles são capazes de se indignar com os problemas que as cercam. Mas esta quinta nos mostrou o quanto ainda é preciso melhorar. Uma ciclovia recém-inaugurada caiu, os corpos de duas vítimas do acidente foram colocados na praia, e algumas pessoas continuaram jogando futebol a poucos metros dali, como se nada ocorrera.
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Certamente aqueles rapazes não poderiam fazer nada para ajudar as vítimas e talvez tivessem pouco a acrescentar em uma investigação. Mas se alienar de tal forma do que ocorre ao redor, ficar indiferente à morte de duas pessoas, mostra um sentido de comunidade ainda frágil. Deixar de lado suas tarefas – nem que seja jogar altinha com os amigos, um lazer mais que legítimo – para dedicar seu tempo e sua mente à sua cidade ou ao seu país ainda é tratado como um esforço por muitos.
Esse é um grave problema em diversas sociedades, e o Brasil está entre elas. Crescem os exemplos de pessoas fazendo trabalho comunitário, de serviço voluntário ou de luta por melhorias. Mas ainda há um individualismo exagerado, que pode estar escondido por trás de um “o importante é eu me dar bem” e se expor no momento em que nem a morte de duas pessoas a poucos metros muda seu humor, ou sua vontade de jogar bola.
Não é uma questão de crucificar os rapazes que ficam na altinha, porque eles só refletem um comportamento que vemos no dia a dia. As cidades brasileiras têm milhares de problemas, de falta de oportunidades econômicas à falta de qualidade na prestação de serviços públicos, passando por violência urbana e planejamento fraco. Ninguém precisa ser o herói e sair nas ruas tentando resolver tudo, acabar com o crime, consertar as ruas, dar emprego a quem não tem, fazer o atendimento a quem está na fila do hospital público e ainda salvar a vida das vítimas da queda da ciclovia Tim Maia. Mas a indiferença aos problemas, quaisquer que sejam, mostra o rompimento da ligação entre alguns indivíduos e o resto da sociedade.
As comunidades que formam o Brasil só melhorarão quando as pessoas se sentirem pertencentes a ela e se envolverem da forma que acharem melhor. Que seja agindo ou apenas reclamando. Só não é possível ficar indiferente, desumanizado.