O que? São Paulo terá mais uma edição da Virada Esportiva neste fim de semana (24 e 25). O evento não tem grande repercussão e mesmo a adesão muitas vezes é modesta, o que mostra como ainda há dificuldade de se entender a importância do esporte na sociedade. Não apenas como lazer, mas como atividade que promove integração entre as pessoas.
O esporte como ferramenta de interação
Acontece a cada quatro anos e não deve ser diferente em 2016: o mundo se reúne para os Jogos Olímpicos, o Brasil acaba conquistando uma quantidade de medalhas inferior ao que a mídia e a torcida quer (o que não significa que estejam fora de nossa realidade) e haverá os discursos de como o esporte não tem apoio no País. Ainda que o fato de a edição do ano que vem ter sede no Rio de Janeiro deva aumentar a quantidade de pódios brasileiros, a chance de algum nível de decepção existe.
O caminho mais tradicional é falar da falta de apoio ao esporte na escola, com infraestrutura deficiente e sucateamento das aulas de educação física. Isso é verdade, mas não é apenas no sistema educacional que a atividade esportiva não recebe a importância devida. Não há esporte suficiente no dia a dia das cidades brasileiras. E, por isso, iniciativas como a Virada Esportiva (que ocorre neste fim de semana em São Paulo, mas tem equivalentes em outras cidades) precisam de mais atenção e carinho.
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O esporte tem importância econômica (as competições geram dinheiro e empregos, além de criar caminhos para uma ascensão social rara no Brasil) e educacional (incentivam crianças a permanecerem na escola) inegáveis e fáceis de compreender. No entanto, nem sempre se olha para ele como uma ferramenta de interação social.
Qualquer esporte se desenvolveu pela necessidade das pessoas de criarem jogos para diversão e socialização. O palco original disso não eram estádios, ginásios ou outras praças esportivas. Muito menos a casa das pessoas. Era a rua, a praça, o parque, a margem dos rios e outros espaços públicos que permitissem a prática de uma modalidade qualquer (que o digam o pessoal do skate e do parkour). O esporte ajuda a dar vida às cidades, ajuda as pessoas a interagirem com ela.
A cidade retribui o favor, dando um sentido àquelas atividades, mesmo no esporte profissional (onde a obrigação de vencer pode tirar um pouco o sentido lúdico). Veja abaixo um trecho do texto de apresentação do Outra Cidade nos sites irmãos Trivela e ExtraTime, falando da relação íntima entre centros urbanos e prática esportiva:
O esporte como entendemos hoje só existe com as cidades. As brincadeiras e jogos primitivos só puderam se transformar em competições e espetáculos para entreter um grupo grande de pessoas quando há pessoas reunidas para dar suporte a isso. As primeiras civilizações sempre estiveram ligadas ao surgimento de concentrações urbanas e, dentro delas, de esportes para divertir praticantes e torcedores.
Em esportes coletivos, os mais populares do mundo hoje, isso se torna ainda mais importante. Equipes representam um lugar, uma comunidade, uma cultura, uma ideia. A ligação com um grupo de pessoas é fundamental para a sustentação de qualquer equipe, do Flamengo ao New England Patriots, do Coritiba ao Real Madrid, do XV de Jaú ao Los Angeles Lakers, do Newcastle ao Boston Red Sox.
Por isso, não há esporte sem a cidade. Ela cria os cenários em que o esporte tem vida como prática, como diversão, como tema de conversa, como ponto de encontro entre rivais. E um ambiente urbano mais saudável certamente tem impacto no esporte.
Entender o papel de um evento como a Virada Esportiva é fundamental para qualquer ideia que se tenha de uma cidade mais humana. Porque o esporte não deve ser visto apenas como competição e educação. Ele também é urbanismo.
Serviço
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