Tarde de véspera de Natal, 2015. Entre 15h e 16h, o SOS Alarm, serviço de emergência da Suécia, teve uma queda de 16% na quantidade de ocorrências em relação às três horas anteriores e às três posteriores. Uma queda significativa, mas que nem foi tanto se comparado ao que ocorreu no mesmo dia e horário em 2014 (20%), 2013 (26%), 2012 (23%) e 2011 (20%). Esse fenômeno de segurança pública já é conhecido há décadas no país, e é chamado de “Efeito Pato Donald”.
Não, não é um apelido criativo como os da Odebrecht para políticos que aceitavam propinas. É realmente isso. O Pato Donald causa uma queda na quantidade de ocorrências na Suécia na tarde da véspera de Natal. Tudo por causa de um programa de TV que se repete há mais de meio século e se tornou uma tradição natalina entre os suecos.
Tudo começou em 1959. A TV1, principal canal estatal do país, transmitiu o especial natalino da Disney “From All of Us to All of You” (“De todos nós para Todos Vocês”), que recebeu o nome “Kalle Anka och hans vänner önskar God Jul” (“Pato Donald e Seus Amigos Lhes Desejam um Feliz Natal” em português). Trata-se de um programa despretensioso, com Walt Disney e o Grilo Falante apresentando uma série de desenhos animados antigos do universo que criou. Com o tempo, uma figura da TV sueca substituiu Disney no papel de anfitrião e os desenhos das décadas de 1930, 40 e 50 ganharam companhia de outros, dos anos 60. As histórias nem sempre têm ligação com o Natal, é apenas uma série ininterrupta (não há intervalos comerciais) de desenhos com mais de 50 anos.
Incrivelmente, isso se tornou uma mania. A reunião familiar na véspera de Natal não está completa sem uma sessão de Pato Donald. A audiência fica entre 40 e 50% dos televisores ligados. Em 2015, estima-se que 3,44 milhões de suecos tenham visto o programa, equivalente a 35,8% da população do país. Com tanta gente diante da TV, a quantidade de ocorrências, de acidentes de trânsito a crimes, cai.
“O Efeito Pato Donald é bastante conhecido de nossos operadores, que percebem como toda a Suécia se acalma por um tempo. Muito menos gente está fora ou indo para algum lugar de carro. Isso derruba temporariamente o número de acintes e menos gente liga para o 112 (equivalente ao 190 do Brasil) nessa hora em particular”, afirmou Helena Söderblom, responsável pela comunicação do SOS Alarm.
O impacto do personagem é tão grande que seu nome até entrou no subtítulo do livro de uma exposição sobre tradições natalinas no Museu Nórdico de Estocolmo. Um fenômeno curioso, mas não raro naquela região do globo. Na Finlândia, dar assinatura de gibis do Pato Donald é uma tradição para pais que estão ensinando seus filhos a ler (e tem como não assinar depois de ver uma propaganda como essa?). Na Noruega, a mania é tamanha que foi escrito um livro sobre o “donaldismo”, a paixão pelo Pato Donald (e, por extensão, pelo universo Disney).
Se você quer um pouco dessa experiência natalina da Suécia, aí vai um episódio antigo do Pato Donald em sueco. Boa diversão.