O que é? A rede Transporte Ativo, em parceria com organizações de cicloativistas de dez cidades brasileiras, elaborou o Perfil do Ciclista Brasileiro. Trata-se de uma grande pesquisa sobre o perfil das pessoas que usam bicicleta em seu dia a dia no Brasil. O objetivo foi descobrir o padrão de comportamento desse público, como em que momentos ele pedala, com que frequência e até questões demográficas como poder aquisitivo e faixa etária.
Apresentando os ciclistas brasileiros
Bicicletas carregadas sobre barcos de madeira navegam as águas do rio Sergipe. Seu Geraldo, com seus 65 anos de idade se desloca por Belo Horizonte exclusivamente pedalando. Os brasilienses podem embarcar no metrô carregando suas bicicletas sem restrições de dia e horário. Em Niterói, ciclistas fazem parte do seu trajeto de moto-táxi. No Rio de Janeiro, 60% dos ciclistas se concentram na zona oeste da cidade, onde há mais infraestrutura cicloviária. Recentemente foi liberado o acesso de bicicletas nos ascensores da capital baiana, como o Elevador Lacerda e o Plano Inclinado Gonçalves (Pelourinho/Comércio), oferecendo ao ciclista a opção de escolher se prefere encarar as ladeiras ou pegar uma “carona”.
Essas informações fazem parte da pesquisa sobre o perfil do ciclista brasileiro realizada nos meses de julho e agosto de 2015 e divulgada na última semana pela Transporte Ativo. Foram entrevistados 5.012 ciclistas que pedalam pelo menos uma vez por semana entre segunda e sexta. A proporção de ciclistas participantes da pesquisa foi a mesma em todas as cidades nas quais a coleta de dados foi distribuída uniformemente pelas áreas centrais, intermediárias e periféricas.
Um dos dados levantados foi que, em média, 26% dos ciclistas fazem integração com outros meios de transporte. Entre os que usam a bicicleta para se locomover, 42% possuem o ensino médio como última etapa concluída da educação formal e 30% possuem renda entre um e dois salários mínimos. A faixa etária com maior concentração de ciclistas foi 25 a 34 anos, à qual pertencem 34,3% dos entrevistados. Entre os participantes da pesquisa, 42,9% disseram que começaram a usar a bicicleta para se locomover porque é mais prático e rápido e 44,6% continuaram a pedalar pelo mesmo motivo. Aproximadamente 20% sofreram acidentes de trânsito nos últimos três anos.
Algumas particularidades locais se destacam entre as informações levantadas, como o fato de 98,3% dos ciclistas de Manaus se deslocarem exclusivamente de bicicleta, 83,7% declararem que usam o modal para ir às compras e 97% para trabalhar (era possível escolher mais de uma opção). Na capital amazonense, a maioria dos ciclistas circula nas áreas periféricas e 40% pedalariam mais se a segurança no trânsito fosse melhor.
Em Aracaju, a grande maioria dos ciclistas também não pratica integração com outros meios de transporte e a bicicleta é único modal de 92% dos entrevistados. Entre os brasilienses, 52% dos participantes utilizam a bicicleta em combinação com outros meios de transporte,fazendo da capital do Brasil o lugar onde a integração com modais diversos é mais praticada. Brasília também se destaca por ser a cidade onde 16,6% dos ciclistas declararam não possuir nenhuma renda, sendo que 37% têm entre 15 e 24 anos.
Entre os ciclistas belo-horizontinos, 34% começaram a pedalar porque desejavam utilizar um meio de transporte mais saudável. Único município que não é uma capital onde o levantamento foi realizado, Niterói possui a maior taxa de mulheres ciclistas entre as cidades pesquisadas, uma vez que lá elas representam 13% dos usuários desse modal.
Porto Alegre, uma das primeiras capitais brasileiras a aprovar a lei de um plano diretor cicloviário, em 2009, com a ambiciosa previsão de construir 495 km de infraestrutura cicloviária, hoje possui menos de 30 concluídos. Entre os ciclistas da capital gaúcha, 93,8% disseram pedalar tendo como destino atividades de lazer e encontros sociais.
O Rio de Janeiro possui a maior taxa de ciclistas que se envolveram em acidentes nos últimos três anos, que representam 24,6% dos cariocas entrevistados. Em Salvador, 20,6% dos que pedalam têm entre 45 e 54 anos e em Recife, 56,6% utilizam a bicicleta para se locomover há mais de 5 anos. Segundo levantamento da Ameciclo, cerca de 3000 deslocamentos diários são feitos de bicicleta na capital pernambucana, que possui pouco mais de 200 quilômetros quadrados de área.
Em São Paulo, onde a porcentagem da população que usa bicicleta como meio de transporte, segundo levantamento da Rede Nossa São Paulo, é de 7% diariamente ou quase todos os dias, 54% dos ciclistas fazem deslocamentos que levam entre 10 e 30 minutos e 29% entre 30 minutos e uma hora. Entre os paulistanos, 49% responderam que a melhoria da estrutura viária os levariam a pedalar com mais frequência ou por distâncias maiores.
Esse levantamento detalhado sobre o uso da bicicleta demonstra o resultado de algumas políticas públicas, como a adesão crescente a bicicleta como meio de transporte nos últimos anos em São Paulo, ou o fato da maioria dos ciclistas brasilienses realizarem integrações com outros modais. Além disso, até então sabíamos muito pouco sobre quem são os ciclistas, o que também dificultava a elaboração de políticas públicas que fossem soluções assertivas para problemas cotidianos enfrentados por quem pedala. A gente espera que esse seja só um primeiro impulso para que essas cidades busquem melhorar as condições para a circulação de bicicletas, desta vez conhecendo melhor quem serão os beneficiados e quais são suas necessidades.