O quê? Está aberta a temporada de ônibus novos. A prefeitura de São Paulo abriu, para consulta pública, a licitação das empresas que serão responsáveis pelos serviços de ônibus da capital.

Tem muita mudança. Uma das mais importantes é a realização de pesquisas periódicas de satisfação dos passageiros, que serão consideradas na hora de determinar o repasse de dinheiro público que cada empresa vai receber. Camila Montagner foi atrás de números que mostram a opinião das pessoas quando elas estão do lado de lá da catraca (e também dos que ficam sem poder passar por causa da lotação).

Sua opinião vale dinheiro

O prazo para receber sugestões e pedidos de informação sobre a nova licitação vai até o próximo dia 31. Ganha o contrato a empresa que apresentar a proposta com a menor tarifa. Depois disso, nós, os passageiros, seremos consultados regularmente. A nossa satisfação (ou não) com os serviços  ajudará a determinar o repasse a essas concessionárias. Essas empresas serão responsáveis pelos ônibus de São Paulo nos próximos 20 anos.

Além da opinião dos passageiros sobre a qualidade dos serviços, entram nessa conta os gastos para operação, número de passageiros transportados e ganho de produtividade.

No atual contrato, a avaliação dos usuários não é um quesito para a remuneração das empresas.

Como apontou o nosso leitor Evandro Spinelli em publicação no Facebook, erramos ao dizer que as empresas concessionárias do transporte de passageiros recebem por pessoa transportada. Segundo a licitação que regulamenta os contratos atuais, o número de giros dados pelas catracas é usado como base para o pagamento, mas o valor pago por passageiro varia conforme o cálculo dos custos operacionais mais o lucro obtido para atuar em cada área da cidade.

Aproximadamente 10 milhões de passageiros usam ônibus em São Paulo. Segundo pesquisa da ONG Nossa São Paulo, o tempo médio de espera no ponto caiu de 25 minutos em 2013 para 20 em 2014. Entre os 1.512 entrevistados, 68% usam ônibus como meio de transporte. A média das notas dadas para a satisfação com o transporte público em geral foi de 4,5, o que representa um aumento de 0,4 em relação ao ano anterior. O índice de 2013, de 4,1, foi o mais baixo atingido desde que esse levantamento anual começou a ser realizado, em 2008, quando a média era de 4,8.

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Fila de ônibus no ponto Getúlio Vargas

Vale lembrar que nem tudo que influencia a opinião dos passageiros sobre o transporte coletivo acontece da porta do ônibus para dentro. No que diz respeito à conservação dos pontos de parada, a média entre as avaliações feitas pelos entrevistados que usam esse meio de transporte em São Paulo foi 4,7.

Uma pesquisa feita pela Universidade de Minnesota mostrou que fatores como poluição, barulho, sujeira e tráfego intenso podem fazer a percepção do tempo de espera no ponto ser maior que a quantidade de minutos passados ali. Pessoas que esperaram 10 minutos em lugares que elas definiram como sujos e barulhentos disseram que aguardaram por 12. Por outro lado, a mera presença de árvores no entorno pode fazer a espera ser mais suave, tanto para longos períodos quanto para curtos.

A redução do tempo de espera é o fator que mais atrai novos usuários para os ônibus. 28% das pessoas que nunca usam ônibus afirmam: tempo mais curto no ponto significa chance maior para o ônibus.

Próximos passos 

Digamos que o tempo de espera diminua significativamente e essas pessoas sejam convencidas a usar o serviço. Isso significa menos carros nas ruas, menos congestionamento, menos poluição. Parece bom, certo? Mas não é tão simples, uma vez que a média dada pelas pessoas que já andam de ônibus para o item lotação deles foi de 3,2, ou seja, foi o quesito que recebeu a pior avaliação. Para 39% deles a sensação de enlatamento parece ter piorado e outros 54% disseram que não melhorou nem piorou. Aí é só fazer as contas para ver que não sobra muita gente achando que está menos apertado que de costume.

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Avenida Nove de Julho

Em outras palavras, se essa pesquisa do ano passado estivesse sendo utilizada para melhorar as condições do serviço agora, em 2015, a redução do número de usuários por metro quadrado de assoalho de ônibus estaria no topo da lista. Entre as pessoas que usam esse meio de transporte todos os dias, o tempo médio gasto com o deslocamento diário é de 2h46. Já pensou se durante esse tempo elas passassem um pouco menos de sufoco? E você, que nota daria para o seu coletivo de cada dia?

O bom é saber que essas nossas perguntas não vão ser só retóricas. Vão valer dinheiro para as empresas.