O que é? Na primeira metade do século 20, antes de se tornar Jacarta, a cidade onde hoje se concentram 10 milhões de residentes dentro dos limites territoriais e 30 milhões na zona urbana se chamava Batavia, a capital da Índias Orientais Holandesas. De lá para cá, o pequeno aglomerado virou uma megacidade, mas ainda carece de uma estrutura de transporte rápida e eficiente. Esse nem é o maior problema enfrentado pela capital da Indonésia, localizada em uma planície cortada por 13 rios e com sua área costeira sujeita as mudanças da maré, que afunda um pouco mais a cada ano.
Congestionamento nas ruas e avanço das águas
Jacarta possui 10 milhões de habitantes e apenas 56% de seus trajetos diários são feitos de transporte público. A cidade ainda não possui metrô e, segundo dados compartilhados anonimamente por usuários do sistema de navegação fabricados pela produtora alemã TomTom, motoristas param, em média, 91 vezes por dia. Sem um sistema eficiente de transporte de massa sobre trilhos, as vias da capital da Indonésia ficam constantemente congestionadas.
A já populosa capital indonésia cresce rapidamente e a previsão é que receba mais sete milhões de migrantes nos próximos quinze anos. Para tentar acomodar seu crescimento populacional, estão sendo construídas as duas primeiras linhas de metrô: uma ligando o lado leste ao oeste e outra nas direções norte e sul. Ao todo, o sistema deve alcançar a extensão 107 km e deve começar a operar em 2017, com capacidade para transportar 173 mil passageiros por dia.
Atualmente a cidade possui um sistema de BRT, o TransJacarta e oferece embarque gratuito nos ônibus de dois andares que circulam pelas suas principais avenidas. Os projetos para incentivar o uso e aumentar a oferta de transporte público enfrentam a resistência da classe média local, que vê o transporte individual motorizado como símbolo de status. Em 2014, a polícia de Jacarta estimava uma frota de aproximadamente 17,5 milhões de veículos circula dentro da área urbana. Atualmente a cidade possui apenas um tipo de transporte público sobre trilhos, o trem, e estuda adotar também o VLT.
A cidade se encontra em um território entre rios sujeito a alagamentos e 40% da cidade já se encontra abaixo do nível do mar. Em média, Jacarta afunda 7,6 centímetros por ano e em, em uma das piores inundações recentes, cerca de 70% da cidade chegou a ficar debaixo d’água em 2007. Para prevenir futuros danos, o poder público planeja construir um paredão de mais de 40 km de comprimento e quase 27 metros de altura para conter a água. Para financiar o projeto, foi incluída a construção de ilhas artificiais onde serão erguidos empreendimentos luxuosos.
Visto de cima, o complexo terá o formato de Garuda, uma criatura mítica hindu que se parece com um pássaro e é considerado o emblema nacional da Indonésia. Tanto Deden Rukmana, pesquisador estudos urbanísticos e planejamento na Universidade Estadual de Savannah, quanto o professor do Instituto Federal de Tecnologia Suíço, Christophe Girot, acreditam que o projeto não contempla a principal causa do afundamento, que é a extração ilegal de águas subterrâneas.
A cidade cresceu sem se preocupar em fazer tratamento de esgoto ou manter seus rios limpos para abastecer seus residentes com água potável. Além disso, um estudo realizado pelo governo indica a possibilidade da implantação do paredão desencadear um desastre ambiental, destruindo habitats naturais como os recifes de corais presentes nas águas ao norte de Jacarta.
O crescimento da capital da Indonésia chegou a um ponto de saturação no qual medidas urgentes precisam ser tomadas para prevenir inundações e também melhorar as condições de locomoção dos moradores. Aproximadamente 350 mil pessoas vivem em áreas nas margens dos rios onde se estima que são despejadas 500 toneladas de lixo diariamente, enquanto a cidade vai afundando aos poucos.