A interação na rua entre os veículos nem sempre é das mais tranquilas. As paradas de ônibus, por exemplo, muitas vezes criam gargalos não apenas para os carros, mas também para outros ônibus e, eventualmente, bicicletas. Posicioná-las é um trabalho mais complexo do que parece, e uma escolha acertada pode fazer diferença no trânsito sem criar nenhum custo ou medida extra. Por isso, dois pesquisadores da Universidade McGill, Canadá, decidiram investigar o impacto da localização dos pontos de ônibus no tráfego.
O estudo elaborado pelo dourorando Ehab Diab e o professor Admed El-Geneidy verificou que implantar paradas depois de cruzamentos é mais eficiente para evitar atrasos. Pontos de ônibus que ficam logo antes de esquinas fazem com que os veículos demorem, em média, entre 4,2 e 5 segundos a mais que em paradas imediatamente após cruzamentos.
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A dupla chegou a essa conclusão após verificar dados com o tempo de parada dos veículos com grande concentração de passageiros em Montreal, Canadá, e Portland, EUA, durante seis meses. Nenhuma das linhas contavam com prioridade semafórica e todas tinham pontos em intervalos regulares, a cada 300 ou a cada 600 metros. O levantamento utilizou dados de contagem automática e GPS de dois sistemas: a Sociedade de Transporte de Montreal e o TriMet, de Portland.
Isso não significa que todas as paradas devam ficar sempre após cruzamentos. Sua localização depende também da segurança dos passageiros ao descer e sair, dos conflitos com outros veículos naquela via específica e da manutenção da qualidade do serviço de transporte.
Em relação a segurança, por exemplo, há um consenso de que paradas localizadas logo antes dos cruzamentos proporcionam ao motorista uma boa percepção do fluxo de veículos vindo de outras direções e maior visibilidade dos pedestres correndo para alcançar o ônibus. O principal argumento a favor do posicionamento no início do quarteirão é que organizar o fluxo de pedestres e coletivos dessa forma reduz o risco de acidentes.
Por outro lado, ter um ônibus parado logo após o cruzamento prejudica a visibilidade dos pedestres que não conseguem enxergar os carros e motocicletas vindo na faixa ao lado e também dos outros condutores da via, especialmente se o semáforo abrir e eles precisarem contornar os coletivos para fazer uma conversão. Paradas logo após a faixa incentivam os passageiros que desembarcam ali a atravessarem atrás do ônibus, onde eles podem ter uma visão melhor do tráfego.
Ainda que a segurança seja o item principal, ter um levantamento da influência da localização do ponto para o trânsito é interessante no caso em que não exista diferenças consideráveis nos demais aspectos. Mesmo que elas sejam de alguns segundos, isso pode fazer a diferença em linhas muito longas e movimentadas. Dependendo da extensão do percurso, pode significar até mesmo a redução do número de veículos necessários em um mesmo trajeto.
Considerando que o custo de cada coletivo em circulação em São Paulo é de aproximadamente R$ 32 mil por mês, o posicionamento mais eficiente dos pontos poderia resultar em uma economia considerável. Além disso, manter mesma regularidade de frequência, evitando atrasos ou adiantamentos nos horários de parada ajustando a instalação de novos pontos ou modificando os já existentes pode incentivar mais gente a confiar no transporte público.