A região de Dubai, que abriga o prédio mais alto do mundo e possui uma alta concentração de arranha céus, também concentra um alto índice de incêndios em grandes edifícios. Até ontem, os Emirados Árabes se encontravam em um intervalo de quase três meses desde que a última edificação pegou fogo. Ontem, centenas de residentes de Ajman, na região metropolitana, foram evacuados devido a uma nova ocorrência, que não deixou vítimas.
Casos de prédios construídos a partir da virada do século consumidos por chamas se multiplicaram nos Emirados Árabes durante os últimos anos. Contando com o incêndio de ontem, foram cinco ocorrências em arranha céus desde 2012. Em 29 de abril daquele ano, um prédio de 40 andares pegou fogo. Ainda em 2012, moradores dos 37 pavimentos de um imóvel de uso misto ficaram desabrigados pelo mesmo motivo. Em 2015, foi a vez dos 79 andares do Torch Tower (isso mesmo, o local tinha a palavra tocha no nome), serem atingidos por chamas que curtiam uma ironia.
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Na virada do ano, um hotel de 63 andares próximo ao maior shopping local e da mais alta edificação do mundo, o Burj Khalifa, pegou fogo. A administração municipal não interrompeu a queima de fogos de artifício no topo do arranha céu com a desculpa de que desejavam que os moradores se lembrassem da extravagante comemoração, em vez de guardar memórias das chamas.
Os dois primeiros incêndios foram supostamente causados por bitucas de cigarro, mas o fator que mais pesou para que o fogo tomasse as proporções que tomou em ambos os casos foi uma mistura desastrada de especificação de material e de execução. Os edifícios tinham revestimento externo de painéis de alumínio composto com recheio de poliuretano. Esse polímero tem desempenho ruim em altas temperaturas (no Brasil, painéis de alumínio composto costumam usar polietileno no interior), queimando rapidamente e permitindo que chamas se espalhem em instantes.
Painéis com essa especificação podem ser encontrados em quase dois terços dos prédios da região e foram proibidos depois dos incêndios de 2012. Os edifícios que já tinham esse material em suas estruturas teriam que adotar medidas para reforçar a segurança, como a implantação de sprinklers externos e chapas adicionais para retardar incêndios. Mas nem todos cumpriram as determinações. Supostamente, tanto o hotel e quanto o Torsh Tower teriam cooperado com as novas regulações – e ainda assim pegaram fogo.
Por enquanto, Dubai não parece disposta a abrir mão do padrão estético de seus arranha-céus cobertos de brilho metálico. O que a cidade se dispôs a fazer até o momento é encomendar 20 jetpacks – ao custo de US$ 35 mil por equipamento – para alçar seus bombeiros até o topo dos espigões prateados em casos de emergência. Os propulsores foram encomendados em dezembro de 2015 e não há notícia de que tenham sido usados no último incêndio.
A causa do fogo em Ajman ainda não foi determinada, mas a forma como o fogo se espalhou pelo prédio é semelhante aos incêndios em prédios cobertos de painéis de alumínio com poliuretano. A área é habitada principalmente por trabalhadores de Dubai, principal centro comercial do Golfo Pérsico.
O estabelecimento de um novo código nacional de segurança contra incêndios foi adiado depois do incêndio na virada do ano para permitir revisões. A previsão é de que as normas – que devem ser lançadas em abril – finalmente incluam a possibilidade de responsabilizar fabricantes, vendedores e municípios caso materiais de construção não-permitidos sejam encontrados.