O que é? Um dos armazéns da Amazon fica no sul de Baltimore, distante do centro. A região não é atendida por linhas regulares de ônibus. Por isso, a prefeitura da cidade americana fez um empréstimo de US$ 100 mil para compensar a empresa pela necessidade de montar um sistema de ônibus fretados para seus funcionários. Mas com uma contrapartida.
Mais um caso de disputa município x estado
A Amazon inaugurou um centro de distribuição de 93 mil m² em Point Breeze, região sudeste de Baltimore. O local foi escolhido a dedo: logo atrás do porto da cidade, ótimo para uma estrutura de logística. O problema é fazer com que mais de 3,5 mil trabalhadores façam suas viagens diárias entre suas casas e o armazém. Não há linhas de ônibus suficientes e as viagens podem levar mais de 1h30 para alguém que mora perto do centro da cidade precisa de transporte público.
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A MTA (Maryland Transit Authority, órgão estadual responsável pelo transporte público na cidade) até aumentou a quantidade de linhas que chega à região de Point Breeze, mas continua insuficiente para atender a todos os funcionários do centro de distribuição. A solução da loja online foi a tradicional de empresas americanas: contratar um serviço de ônibus fretados, com vários veículos fazendo o trajeto entre o armazém e locais importantes da cidade no começo e no final dos turnos de trabalho.
O sistema atende às necessidades dos funcionários, mas criou um custo extra à empresa. Mesmo sendo responsabilidade do governo estadual, a prefeitura resolveu compensar, propondo um empréstimo perdoável de US$ 100 mil à Amazon para a manutenção dos fretados. Uma decisão que tem motivado críticas da população.
Apesar de ser tecnicamente um empréstimo, o valor pode ser encarado como repasse de verba. Afinal, os US$ 100 mil serão perdoados se a Amazon mantiver suas operações com um mínimo de 1,6 mil trabalhadores pelos próximos três anos. Salvo uma gigantesca crise na empresa, essa taxa será atendida sem dificuldade. Trata-se de menos da metade do número atual de trabalhadores do centro de distribuição de Baltimore e, pelo acordo da loja online com a prefeitura e o estado de Maryland, o local tem de manter ao menos 1 mil empregos e receber US$ 175 milhões nas instalações pelos próximos dez anos. Tudo para validar o incentivo fiscal de US$ 40 milhões.
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Por trás de todo esse problema está o sistema de transporte cronicamente ruim da Grande Baltimore. Os conflitos entre as necessidades municipais e a gestão estadual da MTA torna investimentos e adaptações lentos e desarticulados. O governador republicano Larry Hogan cancelou em junho a construção da Linha Vermelha, um sistema de VLT (veículo leve sobre trilhos) que atravessaria Baltimore e teria até verba federal. Em troca, ele prometeu uma remodelação de todas as linhas de ônibus da cidade até o meio de 2017, aumentando a rede e a frequência de passagem dos coletivos.
De qualquer forma, considerando o quanto Baltimore e Maryland já haviam dado de incentivo à Amazon (US$ 40 milhões) e o valor da companhia (US$ 175 bilhões), bancar os ônibus fretados são um gasto pequeno para a empresa. Por isso, a prefeita democrata Stephanie Rawlings-Blake tem sido acusada de baixar demais a cabeça para a empresa, até assumindo um gasto que, se existe, é do governo estadual.