Tem virado moda grandes cidades criarem planos de teleféricos como opção de transporte. Em cidades como Medellín, Rio de Janeiro e La Paz, essa tecnologia fazia sentido pelo modo como ela ajuda a integrar comunidades localizadas em morros. No entanto, foi proposta como alternativa em Washington, Cidade do México, Toronto e Nova York. Na última semana, foi a vez de Chicago apresentar seu projeto. Mas, ao menos, não vendem a ideia como transporte de massa.
Laurence Geller e Lou Raizin, dois empresários locais, apresentaram ao Choose Chicago, instituição que trata de questões de turismo e convenções na cidade, o projeto de uma linha de teleférico como mais um atrativo turístico. O Skyline (nome com duplo sentido e bem espirituoso) passaria pelas pelo centro, dando ao visitante uma vista aérea da elogiada arquitetura da terceira maior cidade norte-americana.
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A ideia do teleférico não seria apenas oferecer um novo ponto de vista, mas ele próprio ser uma atração. “Caímos sempre na mesma questão: qual é nosso diferencial? Onde está nossa Torre Eiffel? Nosso Big Ben? Essas ideias são nossas tentativas de responder essa questão e pretendem começar uma conversa sobre o que é Chicago e qual gostaríamos que fosse nossa reputação no futuro”, comentou Raizin em entrevista ao jornal Chicago Tribune. Segundo Geller, a nova atração atrairia 1,4 milhão de turistas por ano (em 2015, a cidade recebeu 50 milhões de visitantes).
Claro, eles tentam vender sua ideia. Chicago tem seus ícones, como a Willis Tower (ex-Sears Tower e ex-edifício mais alto do mundo), o Millenium Park, o Chicago Theater e a vista dos prédios a partir do Lago Michigan. Até o jazz e o blues podem servir de símbolos, ainda que não sejam físicos. Mas convencer a prefeitura e a população que o teleférico mudaria a cidade de patamar é importante quando se estima que o custo de implantação seria de US$ 250 milhões, parte dele bancado com verba pública.
Pelo projeto, a linha de teleférico poderia levar até 3 mil pessoas por hora e suas cabines foram desenhadas pelos arquitetos David Marks e Julia Barfield, os mesmos da London Eye (famosa roda gigante de Londres). Raizin e Geller calculam que, em valores de hoje, o ingresso do passeio ficaria em US$ 20, o mesmo da subida à Willis Tower e ao John Hancock Center, os dois edifícios mais altos da cidade.
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O Skyline em si parece um passeio interessante para quem já estiver em Chicago. A arquitetura local merece ser vista, mas há várias questões que motivam desconfiança da população e da mídia. Poucos acreditam na promessa que o teleférico funcionaria durante todo o ano, pois o inverno é bastante rigoroso. O vento também é apontado como um possível obstáculo. A Windy City (Cidade dos Ventos) não tem esse apelido à toa, ainda que as rajadas vindas do Lago Michigan não coloquem Chicago entre as dez cidades com piores ventos dos Estados Unidos.
Outro problema é visual. O espaço aéreo do Loop (centro) já está congestionado devido ao metrô, que se ergue em estruturas metálicas e serpenteia pelas principais avenidas. Mais uma estrutura, ainda que passando por outras vias, poderia causar rejeição.
Por isso, os investidores devem ter dificuldades para convencer a população a aprovar o uso de dinheiro público no projeto. Mas, se eles conseguirem viabilizá-lo econômica e tecnicamente e não houver rejeição à existência dessa nova atração, pode ser interessante.