O Outra Cidade esteve com Yovav Meydad, VP de Produtos e Marketing do Moovit, maior aplicativo de transporte público, para conversar sobre o futuro da mobilidade urbana, cidades inteligentes e sobre a apresentação de um raio-x inédito, feito pelo app, do transporte público nas principais cidades brasileiras. Foi a primeira vez que o executivo veio ao Brasil, ao participar da Semana UITP América Latina, da União Internacional de Transporte Público, que aconteceu na última semana, no Centro Brasileiro Britânico, em São Paulo.
O Moovit nasceu há cinco anos com o objetivo de tornar a viagem dos passageiros mais rápida, fácil e menos estressante, ao entregar serviços que respondem a perguntas como: Que horas o meu ônibus vai passar? Vou ter lugar pra sentar no trem? O metrô está operando normalmente?
A ideia principal sempre foi ter em um único produto tudo o que o usuário precisa para utilizar o transporte público de maneira menos estressante e mais assertiva.
“Quando o criamos, nós tínhamos a noção de que estaríamos tentando resolver um problema global muito grande. Afinal, oito bilhões de pessoas usam o transporte público e passam muito tempo nele”, conta Meydad.
A base de dados do Moovit conta com algumas fontes. Entre elas, o próprio governo e as autoridades – muitas vezes em forma de parceria. As informações são itinerário de cada ônibus, o número de linhas, detalhes sobre a frota… Para acessar os dados em tempo real, o aplicativo conta com dados do GPSs dos ônibus, por exemplo. No entanto, muitas vezes, esses recursos só estão disponíveis em grandes cidades. E é aí que entra a importância das atualizações dos colaboradores e usuários. Eles também podem ser editores, Moovitors, como são chamados, e ajudar a mapear outros locais.
Atualmente, são mais de 55 milhões de usuários – em menos de quatro anos -, em 1.200 cidades (100 só no Brasil, o país com maior adesão ao app), em 75 países diferentes e com 43 idiomas. O Moovit traz direções, itinerários, tempo de chegada do transporte e, aqui no Brasil, permite recarga do bilhete Único/Bom/Bom+.
Leia a entrevista.
A que atribui o fato de o app Moovit ter no Brasil a sua maior comunidade?
Nós tentamos responder isso inclusive internamente. Quando lançamos o Moovit no Brasil e percebemos o sucesso que ele estava fazendo, nós sentamos e começamos a analisar o motivo disso. E o que percebemos foi: primeiro existe uma demanda muito grande de um serviço como o nosso por aqui; segundo, notamos que o Brasil é um país muito mais propenso a adotar novas tecnologias, em comparação a outros locais – e isso vale tanto para o app em si, tanto como para novas funcionalidades.
Por exemplo, os brasileiros usam muito a opção de tirar foto das estações e das paradas e fazer o upload dessas mídias. Além disso, fomos surpreendidos positivamente com a função de editor, de ser um Moovitor. Para você ter ideia, a primeira cidade a ser mapeada totalmente pelos voluntários foi uma cidade aqui no Brasil, João Pessoa. Muitas vezes, as pessoas aqui se oferecem, mostram que querem ajudar a comunidade, mandam e-mails pedindo essa ferramenta especial de editor. Ou seja, os brasileiros são receptivos com a tecnologia e eu acredito que este seja um dos principais motivos pelo qual o aplicativo é um sucesso por aqui.
E como vocês engajam esses voluntários?
Nós utilizamos o método de gamificação. Ou seja, quando uma pessoa se torna um Moovitor ela ganha um perfil e, a partir das mudanças, ela vai conquistando pontos e subindo de nível dentro do aplicativo, além de ganhar o aval para fazer um review das mudanças de outros editores. Além disso, o próprio senso de comunidade, de querer ajudar a mobilidade da própria cidade faz com que os editores se engajem e ajudem uns aos outros. Eles se falam, criam grupos, trocam dicas. É de fato uma colaboração. O nosso papel é simplesmente desenvolver essas funcionalidades para auxiliar este processo.
Em outubro do ano passado, o Moovit fez uma reformulação na sua interface para que o app se tornasse mais atrativo para a colaboração do usuário. Quais foram os resultados da mudança?
No final do ano passado fizemos essa atualização que foi o resultado de uma longa pesquisa. Por muito tempo realizamos focus group com usuários do mundo inteiro, entrevistas e pesquisas para entender quais os tipos de mudança que deveriam ser feitas. Além disso, testamos diferentes tipos de interfaces silenciosamente com um pequeno grupo de usuários.
Desse modo, juntamos todos os feedbacks e desenvolvemos uma interface que estávamos confiantes que iria agradar os usuários, justamente por ter sido testada e validada por eles. E agora eu posso dizer: nós estávamos certos. O Google nos escolheu como o melhor aplicativo de localização utilizando essa nova interface, o nível de satisfação está maior do que nunca, todos os números bases continuam crescendo. Ou seja, em todos os aspectos nós estamos recebendo sinais que foi uma ótima atualização.
Como vocês monetizam o app Moovit? E qual o modelo de negócio adotado?
O aplicativo é de graça, portanto nós o monetizamos de diferentes maneiras. Uma delas é por meio de diversas parcerias, como a integração com o Uber e com o BOM, no Brasil. Neste caso é um modelo B2C. Mas também há a monetização via B2B, quando fazemos uma parceria com as prefeituras e autoridades.
Em relação à acessibilidade, para pessoas com deficiência visual, por exemplo, como o Moovit trabalha?
Ano passado lançamos um recurso que ajuda pessoas com deficiência visual a se locomoverem com maior facilidade ao utilizarem o transporte público. Uma das funcionalidades é o aplicativo avisar, por meio da fala, o momento de descer do ônibus. Isso para as pessoas com essa deficiência é transformador. Nós recebemos e-mails dos usuários dizendo: “Isso mudou a minha vida. Agora eu sou independente”. Fantástico!
Em relação ao raio-x sobre o transporte público nas principais cidades brasileiras, o que chamou a sua atenção? O que destacaria?
O relatório mostra os resultados em diversas frentes: tempo de viagem, tempo de espera nas estações, distância média da viagem, quantidade de baldeações e distância de caminhada por viagem. São muitos os números, mas, por exemplo, Curitiba é a cidade mais bem colocada quando o tópico é tempo de viagem (72 minutos), em contrapartida Brasília e Recife empatam com o pior resultado (96 minutos). Já em relação à média de espera nas estações, Salvador tem o maior índice (33 minutos). Quando o assunto é baldeação, a cidade com a menor porcentagem é Porto Alegre (50%), já São Paulo tem a maior (66%).
Na sua opinião, o que é necessário para melhorar o transporte público nas grandes cidades?
As cidades estão cada vez mais congestionadas. Isso é um grande problema e é por isso que utilizamos os nossos dados para tentar melhorar o transporte público. No entanto, para que os problemas sejam resolvidos, precisamos saber em quais locais eles estão. Por isso, desenvolvemos um novo produto direcionado para as autoridades, para o governo, para os responsáveis por planejar as cidades. Vou apresentá-lo pela primeira vez.
A ideia é basicamente pegar nossos dados, que são os maiores e os mais atualizados do mundo, formatar e fornecer ao governo para gerar insights sobre como, onde e quando as pessoas usam o transporte público em cada bairro. Basicamente a mobilidade urbana passaria a ser completamente analisada e com isso o governo poderia tomar decisões mais assertivas sobre onde colocar uma nova linha, novas estações…
Parte do levantamento de dados o governo tem que fazer manualmente, mandando pessoas para as ruas, fazendo perguntas. Com a nossa ajuda, tudo pode ser feito por meio de cruzamento de dados. Então, é nisso que acredito para melhorar o transporte público: dar todas as informações necessárias para o governo conseguir fazer uma cidade inteligente, no quesito mobilidade.
Como imagina o futuro da mobilidade?
Quando o assunto é mobilidade urbana, podemos analisá-la por meio de quatro categorias: estrutura (rodovias, pontos, estacionamentos); regras (portanto, as leis de trânsito); veículos (ônibus, carros, metrôs, trem); e o consumo (como o cidadão faz uso de todos estes pontos). Antes da Moovit, as pessoas faziam uso dos itinerários em papel e dos horários impressos dos ônibus, por exemplo. Hoje, com a chegada dos smartphones e dos aplicativos, tudo isso está disponível para milhões de pessoas.
Agora, o próximo passo é conseguir revolucionar as outras categorias. Como? Por meio de computadores inteligentes e dados. Para isso, os computadores precisam saber operar os transportes públicos. Acredito que o Moovit será essencial porque, como eu disse anteriormente, nós temos a maior base de dados do mundo relacionada à mobilidade urbana. É dessa maneira que eu imagino as cidades inteligentes no futuro. Os usuários consumindo a mobilidade por meio de aplicativos e as autoridades fazendo uso de dados para melhorar a experiência do usuário.