O que é? Crianças de 10 a 15 anos envolvidas em identificar problemas pelo bairro e buscar soluções para melhorar a vizinhança. Os resultados dessa atividade extracurricular da escola Santi já podem ser conferidos em alguns estabelecimentos comerciais do bairro do Paraíso, zona sul de São Paulo, onde os estudantes aprendem na prática a ter uma relação mais próxima com a cidade.

Um bairro para todos circularem

Integrar as crianças do colégio com a comunidade em que ele se encontra. Era essa a ideia de Caio Dib em 2014. O educador que tinha acabado de viajar pelo Brasil em busca de iniciativas inovadoras em educação e viu o efeito que isso tinha em algumas cidades por que passou. Assim, começou a desenvolver ações para aproximar os alunos de seu colégio, o Santi, com o Paraíso, bairro da zona sul de São Paulo.

As ideias tinham que vir dos próprios alunos, pois eles mesmos teriam que colocá-las em prática. Os jovens saíram andando pela região, propuseram atividades , planejaram e executaram cada etapa. Era o projeto Transfor+ação.

O trabalho começou com mapeamento e distribuição de folders em três línguas diferentes durante a Copa do Mundo, mostrando os locais que eles achavam mais importantes para os turistas conhecerem. Eles conseguiram 50 apoiadores no Catarse que doaram R$ 3.670 em 23 dias para financiar a produção de 2000 folders e 200 banners. Em 2015, Caio passou a ter a ajuda de outra educadora, Renata, para coordenar as atividades com os alunos.

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Caio, Renata e as crianças com a proprietária da loja de artigos para festas onde um dos bicicletários foi instalado (foto: Facebook)

A última ação realizada foi a produção de bicicletários para serem instalados nos estabelecimentos comerciais da região. A ideia surgiu depois de uma discussão sobre mobilidade urbana onde eles decidiram que iriam lutar para que uma faixa de pedestres fosse pintada em frente à escola. No início, o plano era apenas entrar em contato com a CET. A advogada Liane Lima, do Minha Sampa, foi chamada para ajudar as crianças. Ela comentou com os alunos que sentia falta de estruturas para estacionar a sua bicicleta quando saía pedalando e foi aí que a iniciativa de instalar bicicletários no bairro surgiu.

Entre as crianças que participam da atividade extracurricular, duas são ciclistas. Uma delas vai todos os dias de bicicleta para a escola e também é voluntária do Bike Anjo. Depois de definir a atividade que seria realizada, elas começaram a ligar para comerciantes e pequenos empresários da região que conheciam para definir quantos teriam interesse e estipular o número de bicicletários necessários. Também foi escolhido o modelo do bicicletário, que seriam barras de ferro como aquelas usadas nos banheiros para deficientes físicos.

A campanha de crowdfunding começou em junho e arrecadou em 30 dias R$ 2.265 para bancar o custo da produção e instalação e tinta para pintar as peças, além dos brindes para os apoiadores. Nesse período eles encontraram uma empresa que faria por menos dinheiro um modelo mais adequado de bicicletário e mudaram de fornecedor.

Os alunos estão aprendendo de forma criativa e colaborativa a lidar com a responsabilidade de pesquisar preços e lidar com o processo de produção transparente, sem exceder os valores que foram divulgados na campanha de arrecadação de fundos e entregar os brindes.

Renata, educadora do Transformação

Até o momento seis bicicletários foram produzidos e três foram instalados nos estabelecimentos comerciais da vizinhança. Um deles, uma academia, que inicialmente tinha concordado em receber duas das estruturas desistiu da ideia, mas as crianças já entraram em contato com dois consultórios que têm interesse em receber melhor os ciclistas. Uma nova campanha de arrecadação foi lançada para contar essa e outras histórias do Transfor+ação em um livro.

O objetivo inicial do projeto “Paraíso Anda de Bike” era fazer com que todo mundo circulasse melhor pelo bairro, começando pelos ciclistas. Além de tornar o bairro mais acessível para quem pedala, as crianças também mantém um diálogo ativo com os comerciantes e estreitam as relações com os vizinhos, fazendo da vizinhança um lugar mais receptivo para aqueles que chegam de bicicleta, a pé ou estão sempre por lá.