O que é? Em La Paz, uma experiência com simpáticos educadores urbanos vestidos de zebras dançando e perambulando pelas ruas da cidade foi implantada em 2001 para informar a população sobre o plano viário que estava então em fase de implantação.  Depois de 14 anos, o programa continua promovendo a educação no trânsito na capital boliviana e foi expandido para outras três cidades.

Carros, bicicletas, zebras e pedestres

La Paz encara o desafio de fazer com que carros, bicicletas e motocicletas convivam pacificamente nas vias e que os pedestres circulem com segurança de forma criativa. Um programa que começou com 24 pessoas vestidas de zebras informando a população sobre as mudanças no plano viário da cidade foi aos poucos se adaptando e incluindo apresentações para promover o respeito às normas de trânsito e a responsabilidade cidadã.

Mais de 3000  pessoas já participaram do programa, que faz parte de uma iniciativa mais ampla para envolver jovens em situação de vulnerabilidade na melhoria da cidade. A escolha do animal bicolor como protagonista se deve ao nome dado às faixas de pedestres, conhecidas como paso de cebra em espanhol.

No início do programa os trajes eram feitos de modo que dois educadores incorporassem um único animal quadrúpede. A indumentária evoluiu, dando maior liberdade de movimento e mais conforto aos jovens de 15 a 22 anos que misturam passos de dança de rua e aeróbica vestidos com suas roupas de zebra bípede.

As zebras passam semanas recebendo treinamento até estarem preparadas para atuar nas vias. Os jovens participantes do programa recebem uma bolsa que vai de 600 a 850 bolivianos (aproximadamente R$410). O valor varia de cidade para cidade, pois além de La Paz, também há zebras atuando em Tarija, Sucre e El Alto. Atualmente 505 zebras atuam quatro horas por dia, cinco dias por semana em quatro municípios bolivianos.

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No ano passado, uma das 60 zebras da cidade de Tarija foi atropelada por um caminhão e não sobreviveu. Ela tinha 17 anos e estava trabalhando quando foi atingida, num acidente que colocou em evidência os perigos do trânsito boliviano. O motorista foi preso sob suspeita de dirigir alcoolizado.

Esse foi o primeiro e único caso de morte no trânsito entre as zebras que, no entanto, têm mantido sua linha de atuação nas ruas – ocupando principalmente as faixas de pedestres para ajudar os caminhantes nos cruzamentos – e replicado o programa em outros lugares. Em novembro, quando o programa completou 14 anos, os organizadores anunciaram que Cochabamba possivelmente será a próxima cidade a adotar os educadores dançantes.

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Jovens em situação de vulnerabilidade atuam como educadores urbanos nas ruas da capital boliviana (Hugo Solar/Flickr)

As zebras também atuam em parceria com o sistema de serviço cidadão internacional do Reino Unido para reduzir a poluição auditiva em La Paz por meio da educação e da conscientização sobre seus efeitos nocivos.

A capital boliviana e sua forma pouco convencional de combater a violência no trânsito é um bom exemplo de medida educativa que pode potencializar o efeito de pequenas mudanças como faixas diagonais para pedestre, temporização semafórica adequada e fiscalização. O diretor do departamento de trânsito de La Paz, coronel Iván Quiroz, em declaração ao jornal La Razòn, estima que aproximadamente 20% dos acidentes de trânsito da cidade envolvem pedestres. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde e da Organização Panamericana de Saúde, os pedestres representam em média 27% das vítimas fatais de acidentes de trânsito na América Latina.