O que é? No seu trabalho de conclusão de curso de engenharia elétrica, Douglas projetou um ponto de ônibus acessível para que deficientes visuais possam utilizar o transporte público com mais autonomia e, ao mesmo tempo, comunique a sua presença aos motoristas e às pessoas que também estão ali esperando. Chamado de Viibus, ele foi um dos ganhadores do Desafio Cisco de Inovação Urbana e terá seu primeiro protótipo instalado no Porto Maravilha, no Rio de Janeiro.

Ponto acessível

Douglas Toledo estudava em Campinas e morava em Itatiba, uma cidade vizinha, e fazia o seu trajeto diário até a universidade de ônibus. No mesmo ponto onde esperava sua linha, ele frequentemente encontrava uma senhora deficiente visual. Observando os problemas que ela enfrentava para saber da aproximação do veículo (e se era o veículo certo) e da dificuldade de seu embarque, ele percebeu como havia uma necessidade não atendida de um sistema inteligente que auxiliasse o deficiente visual que precisa usar  transporte público.

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A ideia foi adiante com o nome de Viibus (sigla para “Visually Impaired Intelligente Bus Stop”, ou “Ponto de Ônibus Inteligente para Deficientes Visuais”). Douglas conversou com Leonardo Campos e Adair Silva, dois deficientes visuais do Centro Interdisciplinar de Atenção à Pessoa com Deficiência da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, para saber quais são suas necessidades. A partir daí surgiu um sistema que integra ponto de ônibus, passageiro e veículo. O usuário é informado pelo ponto que se aproxima um coletivo da linha que ele precisa, enquanto o motorista do ônibus é comunicado que há um passageiro com deficiência visual esperando.

Leonardo testa o protótipo do Viibus (Divulgação)

Leonardo testa o protótipo do Viibus (Divulgação)

No ponto é instalado um painel de seleção das linhas em braille, um modelo que foi testado por Campos e Silva, da PUC-Campinas. Além disso, é colocada uma base fixa de comunicação sem fio que detecta a aproximação do ônibus em um determinado raio de distância, que pode ser ajustado de acordo com a velocidade permitida na via.  Uma vez que o ônibus chega até o ponto, o deficiente recebe uma notificação sonora para que possa fazer o embarque.

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Durante o processo, os demais usuários que esperam no ponto também são informados da presença do deficiente visual por meio de um monitor e de sinalização visual. O objetivo disso é fazer que o sistema não substitua a necessidade interação entre as pessoas.

O equipamento se comunica na mesma frequência usada pelos celulares com um sistema similar que fica dentro do ônibus da linha escolhida no painel. Douglas procurou fazer um modelo que não dependesse da conexão com a internet, pois isso limita as áreas onde o Viibus poderia ser instalado. Mas ele também não descarta totalmente a possibilidade de conectar o equipamento com a rede.

O projeto se transformou no trabalho de conclusão de curso de Douglas na faculdade de engenharia elétrica. Depois, o Viibus acabou como um dos cinco vencedores do Desafio Cisco de Inovação Urbana, que buscava soluções para serem implementadas no Porto Maravilha, uma das áreas mais importantes do projeto olímpico do Rio de Janeiro.

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Como o projeto depende da fabricação do equipamento para tornar os pontos de ônibus mais acessíveis, ele está em busca de investidores para poder produzir e instalar a tecnologia em outros lugares além do Porto Maravilha. Sua intenção é esperar o protótipo ser instalado para entrar em contato com as prefeituras, começando por Curitiba, Campinas e Sorocaba.

Eu quero apresentar para as prefeituras para que elas incentivem as empresas concessionárias do transporte público a adotarem o Viibus. Não tem uma lei que determine que pelo menos uma parcela dos pontos de ônibus sejam acessíveis para deficientes visuais, então estou buscando integrar outras soluções que conversem com o mesmo equipamento do projeto para oferecer isso para as cidades.

Douglas Toledo

No próximo dia 15, Douglas embarca para o Rio de Janeiro onde começará o processo de produção e instalação do primeiro protótipo que deve começar a operar até o fim de março. Ele passará os próximos cinco meses levantando recursos e estudando o número de linhas e de veículos que serão integrados ao protótipo. Uma das parcerias previstas para o Viibus é com o selo para comércio acessível Livrit, um projeto para mapear os estabelecimentos preparados para receber as pessoas com deficiência que também foi vencedor do Desafio Cisco.

A deficiência visual é a que tem maior ocorrência no país, atingindo 18,6% da população. Temos falado aqui de formas de tornar o sistema de transporte público mais legível, como o mapa do metrô, mas é importante que a cidade seja legível também em braille.