O que é? As cidades são ruidosas, mas não é difícil encontrar notas harmônicas no meio dos anúncios de ofertas, das buzinas, dos motores. Os músicos de rua ajudam a compor a trilha sonora das grandes cidades, mas permanecem anônimos no meio da multidão. O site Aonde o Mura Mora conta um pouco da história desses artistas, indica o ponto onde eles se apresentam e registram as suas músicas, que agora podem ser ouvidas em qualquer lugar.

A rua é para se ouvir

“Não tem muitos lugares pra tocar e na rua é só chegar e tocar né? E tem muita rua por aí, tem rua sobrando.” É assim que os integrantes da banda Sexy Groove explicam a escolha do local da maioria de suas apresentações. Além de estarem sobrando, as ruas são versáteis: só na avenida Paulista tem música clássica, jazz, rap, forró, rock. É muita gente mostrando serviço, só faltava juntar tudo em um lugar. E é esse o trabalho do site Aonde o Mura Mora, criado para  fazer um mapeamento musical da cidade, registrando músicas que são oferecidas aos pedestres pelas vias da maior cidade do Brasil.

Aonde o Mura Mora – Rodrigues (2015) from SALLVA Filmes on Vimeo.

O projeto começou com o blog de Maurício Zani, conhecido como Mura, técnico de som que há anos fazia registros de músicas tocadas por artistas na rua para o seu blog. No ano passado, os amigos de Mura, Rafael Jannarelli e Fabio Sallva, da produtora Sallva, fizeram uma proposta para reunir em um site informações sobre os músicos com áudios e fotografias e inscreveram no edital do Programa de Ação Cultural (ProAC) da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.

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Em maio e junho eles saíram às ruas para fazer as gravações com duas câmeras, uma para filmagens e outra para fotografar, além do equipamento de captação de som. As fotos e áudios estão disponíveis no site do projeto e um novo vídeo é publicado a cada semana nas redes sociais. “Quem é você? Por que você toca na rua? Para quem você dedica a sua música?” foram as perguntas feitas a cada um dos artistas, que são respondidas entre uma música e outra nas gravações.

Os responsáveis pelo site fizeram questão de manter o ambiente da rua nos registros, sem a assepsia de gravações em estúdios. “Tem muito ruído, a cidade acontecendo ali, ônibus passando. A gente queria registrar, preservar a memória desse momento específico”, conta Jannarelli.

Anor Cândido Marques e Ana Maria da Silva Marques, da dupla Marquinho da Viola e Ana Maria, no viaduto Santa Efigênia

Anor Cândido Marques e Ana Maria da Silva Marques, da dupla Marquinho da Viola e Ana Maria, no viaduto Santa Efigênia

Há histórias das mais diversas, com artistas que expõem sua arte pelos mais diferentes motivos. “Eu estou aqui não é por boniteza, não é para aparecer, é para dar alegria para as pessoas e elas para a gente”, diz Ana Maria da Silva Marques, da dupla Marquinho da Viola e Ana Maria, durante sua apresentação no viaduto Santa Ifigênia.

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Ainda que a maioria dos músicos tenha sido receptiva, alguns recusaram o convite de participar do projeto por medo de não terem seus direitos autorais reconhecidos.

Entrevistamos pessoas que preferiam tocar na rua. A paulista é um palco, você anda e em cada quadra tem uns dois músicos se apresentando. A música alegra a cidade, ajuda a passar o tempo de espera no ponto de ônibus.

Fabio Sallva

Até janeiro todos os vídeos gravados com os músicos devem ser publicados e um novo projeto para gravar com artistas de rua da Grande São Paulo foi elaborado para inscrição em um novo edital. A ideia é expandir o projeto, que atualmente se concentra em retratar os músicos do centro da maior cidade do Brasil.