Com o tema “Letras Pretas: poéticas de corpo e liberdade”, o Festival do Livro e da Literatura de São Miguel chega a sua 8ª edição. Serão mais de 180 horas de programação, pensada de forma colaborativa entre diversas instituições locais, com o apoio de artistas, ativistas, instituições e estudiosos do movimento negro. Ao todos, terão mais de 150 ações distribuídas em 50 pontos de São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, que convidam o público ao debate sobre a importância da presença de autores negros e suas produções na literatura brasileira. O Festival será realizado nos dias 8, 9 e 10 de novembro e é apresentado pelo Ministério da Cultura, com parceria estratégica da Prefeitura de São Paulo, da Universidade Cruzeiro do Sul e do Museu Afro Brasil, apoio cultural do Sesc, patrocínio do Itaú BBA e realização da Fundação Tide Setubal. Todas as atividades são gratuitas e abertas para todos os públicos.

“Por meio da literatura, o Festival permite a chegada de temas importantes e pouco explorados no território, incentivando um exercício de escuta das diferentes vozes que compõem a sociedade, principalmente no ambiente escolar”, sinaliza Inácio Pereira, coordenador da programação cultural da Fundação Tide Setubal.

Dentre as atrações, estão intervenções artísticas, contação de histórias, saraus, peças de teatro, conversas com autores, cortejos literários, interpretações de programas de TVs na rua, venda e troca de livros, além de oficinas de criação de turbantes e das tradicionais bonecas Abayomi – feitas com nós de retalhos de tecido, sem cola e sem costura -, que serão realizadas nas escolas do bairro.

Tradição no festival, no dia 8 de novembro, as árvores do bairro amanhecerão com livros pendurados como frutos literários, que poderão ser “colhidos” pela comunidade. Essa intervenção acontecerá durante os três dias de evento. Ao todo, três mil livros arrecadados na campanha de doação, realizada em diferentes pontos da cidade, serão distribuídos pelas ruas de São Miguel Paulista.

Destaques

Nesta edição, para complementar a trilogia sobre elementos fundamentais para a construção de uma sociedade mais democrática, as atividades abordarão a literatura na luta contra o racismo e a equidade racial na produção literária. A ideia é convidar o público a refletir sobre a representatividade do negro na literatura nacional, visto que, apesar de 53% da população brasileira se autodeclarar negra, de acordo com dados do IBGE, 94% dos autores brasileiros são brancos, assim como 92% dos personagens, como aponta estudo da pesquisadora Regina Dalcastagnè que resultou no livro “Literatura Contemporânea – Um Território Contestado” (2012). O tema será debatido em rodas de conversa com diferentes escritores.

A mesa “O corpo – da literatura à psique” encerrará o primeiro dia de festival, às 20h, no auditório D da Universidade Cruzeiro do Sul, com uma reflexão sobre os impactos negativos dessa invisibilidade e os caminhos traçados por autores negros na busca de garantir mais pluralidade e diversidade às narrativas. Participarão do debate os autores Ana Maria Gonçalves, ganhadora do prêmio Casa de Las Americas em 2007, com o romance Um defeito de cor; Luiz da Silva (Cuti), criador do jornal literário Jornegro e da série de antologias Cadernos Negros; e a psicóloga e psicanalista Maria Lúcia da Silva, organizadora do livro O Racismo e o Negro no Brasil: Questões para a Psicanálise.

No segundo dia de evento, a Praça Morumbizinho será palco de um encontro inter-religioso em defesa da liberdade de crença, das religiões de matriz africana e do estado laico, que contará com a presença de lideranças de diferentes comunidades religiosas. O cortejo do Afoxé Filhos de Kaia sairá às 19h30 da Casa de Cultura de São Miguel.

Já no dia 10 de novembro, às 15h, no auditório A1 da Universidade Cruzeiro do Sul, os autores Débora Garcia, poetisa, produtora cultural e idealizadora do Sarau das Pretas; e Akin Kinte, coautor do livro Punga, e que também participa de outras diversas coletâneas, debatem a literatura como um instrumento de inclusão dos territórios periféricos e seus personagens como sujeitos narradores e não mais como objetos narrados, na mesa “Sujeitos Periféricos: Identidade e Protagonismo”. Eles serão mediados pelo doutor em letras e professor de literatura brasileira, Valmir de Souza.