Virada de ano também é tempo de pensar em como podemos melhorar as cidades e o que podemos fazer juntos pelo lugar onde vivemos. Para fechar 2015 e começar 2016 devidamente, vamos falar das coisas que funcionaram e também daquilo que não deu tão certo assim, do que atrasou e acabou ficando para o ano que vem. Aliás, vamos falar muito sobre o que podemos esperar de 2016 e por isso conversamos com gente engajada nos temas urbanos que marcarão presença nas esquinas, cruzamentos, nos elevadores, nos pontos de ônibus, na pracinha.
Para começar, convidamos André Palhano para discutir as perspectivas para a sustentabilidade urbana. O jornalista com passagem pela Folha de S.Paulo, Agência Estado, revista Veja e idealizador da Virada Sustentável acredita que melhorar o transporte público pode ajudar as cidades a diminuir o impacto das atividades produtivas e que urbanismo sustentável não se resume na busca pelo equilíbrio ecológico.
A mobilidade urbana é sempre apontada como principal causa da poluição do ar. O que pode ser feito em 2016 para diminuir o impacto dos deslocamentos em uma cidade como São Paulo?
A mobilidade é a principal causadora não só da poluição do ar, mas também da emissão dos gases de efeito estufa. São Paulo tem um inventário desses gases que são responsáveis pelas mudanças climáticas e o transporte o maior responsável por isso. Várias ações estão sendo tomadas nessa área e, é claro, entre as principais está a priorização do transporte coletivo. Por mais que tenham outras medidas, o que vai fazer a diferença é a gente ter um transporte coletivo de qualidade. Estamos um pouco longe disso, tem alguns avanços, principalmente em relação a faixas de ônibus, mas a qualidade e a pontualidade, entre outras coisas, ainda estão muito longe do ideal. Não vamos mudar a cara da mobilidade em São Paulo sem mudar o transporte público. Há ações complementares que não são a solução para a mobilidade, mas ajudam nesse sentido: ter mais ciclovias e estimular as pessoas a andarem mais a pé. Acho que não existe “a grande solução”, mas ela passa necessariamente pela melhoria do transporte público e por algumas medidas nas quais avançamos bastante, como na questão das ciclovias.
A destinação de resíduos ainda é gerida de forma ineficiente na maioria das cidades brasileiras. Houve algum avanço importante em relação a esse tema em 2015?
Temos alguns exemplos interessantes, mesmo em São Paulo, que está muito longe do ideal. Foi inaugurada a primeira usina de compostagem lá na Lapa, por exemplo. Você pega o teu resíduo das feiras, aquele monte de produto orgânico que sobra, leva para esse lugar, faz a compostagem, usa sobras de podas de árvores e isso vira um composto. É uma terra super fértil para ser usada em casas, em viveiros, na arborização da cidade. Entre outras coisas, talvez o que eu vi de mais ousado esse ano foi a implantação da coleta seletiva em Salvador. Foi realmente uma revolução, de uma hora para outra implantaram um sistema de coleta que abrange uma grande parte da cidade, não é muito escalonada como São Paulo, que está indo devagar. Eles criaram um programa amplo e está dando certo. É o que eu vi de mais inovador esse ano.
Qual foi o projeto ou uma cidade que alcançou conquistas importantes em relação ao urbanismo sustentável?
De longe dá para dizer foi São Paulo que mais se destacou nesse tema, mas não por uma decisão de governo, e sim pelos movimentos da sociedade civil de ocupação do espaço público. Você já deve ter ouvido esse termo, placemaking, dos movimentos como o Conexão Cultural, Acupuntura Urbana, A Batata Precisa de Você, o Boa Praça, o Rios e Ruas, tem dezenas, talvez centenas de grupos dedicados a ocupar e melhorar o espaço urbano. Em outras cidades também surgiram movimentos, mas nada se compara ao que aconteceu em São Paulo, com tantos grupos ocupando praças, ruas, espaços públicos e melhorando a qualidade desses lugares. Uma cidade mais sustentável não é apenas uma cidade mais ecoeficiente, é também é uma cidade mais humana, mais inteligente.
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Quais será o impacto das resoluções da COP21?
Foi definido um limite de aumento da temperatura média do planeta, que foi um limite até um pouco mais ambicioso do que se esperava – foi 1,5ºC e se esperava que fosse 2ºC. Isso vai foçar todos os governos em todas as esferas a pensarem em metas, em políticas e programas que levem a essa transição para uma economia de baixo carbono. Não tenho a menor dúvida agora cada país, cada estado, cada cidade começará a pensar sua própria política dentro desse novo parâmetro mundial que foi colocado. A gente vai ter sim muita coisa interessante decorrente dessa decisão da COP21, é um marco histórico.
Qual sua expectativa em relação a cidades sustentáveis em 2016?
No caso do urbanismo sustentável, estamos vendo vários eventos legais acontecendo, como o Festival CoCidade e o Arte e Cultura na Quebrada. Isso é muito interessante, São Paulo talvez nunca tenha tido tantos eventos voltados para pensar a cidade de uma maneira mais sustentável, mais inteligente. Para o próximo ano eu acredito que teremos cada vez mais eventos, em relação ao crescimento desses coletivos e projetos, que tratam de sustentabilidade na cidade. Não é aquela sustentabilidade clássica voltada apenas para as questões da floresta, mas também para as coisas que acontecem mais diretamente na cidade.
Qual será o principal tema de sustentabilidade urbana em 2016?
Uma coisa que vai ser bem interessante o grande teste que a gente vai ter ano que vem é como a gente vai lidar com a água. Vai ser o grande teste na relação do paulistano com a água. Uma coisa é você reduzir o consumo em um cenário de escassez, e outra coisa é o que a gente vai fazer. Eu acho que teremos uma relação mais consciente, depois de tudo que a gente passou. Não vou falar que eu não tenho dúvida, mas eu espero muito, torço muito. É preciso usar esse recurso com mais consciência e o grande teste disso será o ano de 2016 porque muito provavelmente a gente não vai ter um problema tão grave de falta da água, mas é nesse cenário, quando volta um pouquinho de conforto, que conseguiremos ver se a gente aprendeu.