O que é? Os orelhões fazem parte da paisagem das cidades, mas a popularização dos celulares reduz drasticamente sua utilidade. Planos para transformá-los em pontos de wi-fi livre foram elaborados em 2013, mas o prazo para a sua concretização se aproxima e até agora não tivemos nenhuma novidade. Enquanto as operadoras acumulam multas por sua incapacidade de manter os telefones públicos em condições de uso, eles servem de suporte para arte urbana, são alvos de vandalismo e perecem esquecidos.
Serviço público x utilidade pública
A maioria dos orelhões foi rebaixada a condição de ser apenas mais um obstáculo nas calçadas. Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro se aproximam e, com eles, o prazo para a implantação da proposta de modernização dos telefones públicos que seriam transformados pontos de wi-fi livre. O plano mais recente, que está sendo analisado pela Agência Nacional de Telefonia, se resume a começar a tirá-los da paisagem urbana, cortando pela metade o número de aparelhos. A decisão ainda não foi tomada pelo Conselho da Anatel e o Ministério das Comunicações informou que não foi comunicado a respeito da proposta.
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A justificativa para retirada de 450 mil telefones públicos tem como base a queda da utilização. Os dados mais recentes liberados pela Anatel sobre o número de ligações realizadas são de 2013 e apontam que 49% dos orelhões possuem uma média de menos de duas chamadas por dia. Entre os mais de 900 mil telefones públicos, 140 mil estão localizados em vilarejos que possuem entre 100 e 300 habitantes. A maior parte se concentra nos grandes centros urbanos: São Paulo, por exemplo, tem aproximadamente 49 mil.
Para efeito de comparação, segundo o Conselho Americano de Comunicação Pública, nos Estados Unidos há 195 mil telefones pagos. Nessa semana, foi oficialmente inaugurada em Nova York a LinkNYC, uma rede pública de wi-fi com torres de 2,9 metros que substituirão os orelhões da cidade. Até julho, 500 das mais de 7 mil torres previstas devem ser instaladas e uma vez que utilizou a rede, o dispositivo é conectado automaticamente à medida em que se aproxima dos outros pontos de wi-fi do sistema. O projeto também prevê que os equipamentos contem com uma tela sensível ao toque que fornece informações e mapas da cidade, além de ligações telefônicas gratuitas.
O plano de Nova York para reinventar os telefones públicos tem custo estimado de implantação de US$ 200 milhões, mas a veiculação de publicidade nos hotspots prometem gerar uma renda de US$ 500 milhões. Remover os orelhões certamente é uma opção mais barata que transformá-los em emissores de sinal de internet com entradas para recarregar os mesmos celulares que aceleraram sua decadência.
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Uma das últimas tentativas de baixo custo para reintegrar os orelhões à dinâmica urbana se deu durante a Copa do Mundo de 2014, quando alguns deles receberam pinturas comemorativas. Muitos orelhões são transformados em atração turística, mas eles deixaram de ser um equipamento indispensável para turistas desde que fazer chamadas pela internet se tornou uma opção mais prática e acessível.
Orelhões ainda oferecem um serviço público e podem ser úteis em casos de emergência, caso o acesso à internet e às redes de celular não estejam disponíveis. Esse é um dos motivos que levaram cidades como Nova York a optarem por reinventar e não dizimar seus telefones públicos. Manter os telefones também representa um custo e por isso estudar maneiras de fazer com que eles se tornem mais úteis é essencial para fazer esse investimento valer a pena, livrando os aparelhos da ameaça de extinção.
PS: No caso das grandes cidades, por que não usar os orelhões como locais com telefone que também sejam pontos de recarga de bilhete único? Fica a minha sugestão.