O que é? A designer britânica Kate McLean coleta dados para mapear as cidades usando apenas o seu nariz (e às vezes com a ajuda de alguns narizes voluntários). Nada de sensores ou câmeras. Seus mapas são preenchidos com coloridas espirais que representam a paisagem sensorial composta pela diversidade de odores encontrados em lugares como Edimburgo, Amsterdã e Nova York.
O mapa para o olfato
Em vez de usar a visão para se guiar, deixe que os cheiros te levem, ande devagar e respire fundo para identificar as fragrâncias locais. Esse parece um procedimento pouco recomendado para ser realizado nas cidades onde se concentram a poluição do trânsito, a decomposição de lixo acumulado e o suor das multidões, mas é parte de um método pensado exatamente para explorar uma forma diferente de se conhecer os centros urbanos: pelo olfato. Depois de serem devidamente captados, os cheiros devem ser apropriadamente registrados na cartela de notas urbanas.
O ato de “cheirar passivamente” é apenas uma das etapas do processo criado por Kate McLean para mapear os odores. Kate é designer e trabalha com interpretações alternativas dos lugares, com base na percepção humana dos cheiros que permeiam as cidades. Ela acredita que as impressões captadas pelas pessoas têm o potencial de oferecer um retrato alternativo e rico dos ambientes, com as nuances que somente a experiência sensorial pode detectar.
Amsterdã tem o aroma acolhedor e adocicado de waffles e café combinados com o frescor das águas dos canais; e em Edimburgo, na Escócia, predomina o extrato do malte das cervejarias locais. Os odores são coletados em caminhadas com a ajuda de voluntários e em seguida associados com suas origens e alcance, indicado por círculos concêntricos nos mapas.
A captação dos cheiros de forma passiva pode ser combinada com uma busca por odores em pontos específicos – quanto mais diversos os lugares, melhores as oportunidades de identificar diferentes notas. Depois da caminhada, é preciso escolher um cheiro que tenha predominado em um local como sua particularidade e associá-lo a uma cor, para que ele possa ser representado sobre o mapa.
A paisagem sensorial de Amsterdã, por exemplo, é composta por 650 odores diferentes e foi registrada com a ajuda de 44 pessoas que fizeram dez caminhadas cada (um percurso dura, em média, 45 minutos) por um período de quatro dias na primavera de 2013. Os aromas da estação também aparecem nos gráficos representados pelas flores, folhas verdes e outros cheiros liberados pelo calor.
Nova York, Singapura, Pamplona, Milão, Glasgow e Paris foram alguns dos outros lugares que foram registrados conforme a percepção olfativa das suas ruas. Alguns cheiros podem ser particularmente repugnantes: em Nova York, no trecho da rua Broome entre os cruzamentos com a Allen e Eldridge, por exemplo, foram identificados os odores de água parada, perfume barato e óleo automotivo. O local foi considerado pela New York Magazine a quadra mais fedida de toda a cidade e Kate foi conferir quais eram as origens do mal cheiro local.
O cheiro é a particularidade mais retida pela memória a respeito dos lugares e o primeiro lugar mapeado por Kate foi Paris, escolhida pela conectividade emocional de suas fragrâncias. Parar em vários pontos de uma rua para sentir os seus odores como se cheirasse uma flor pode não ser uma experiência agradável, mas revela algo que frequentemente passa despercebido sobre as atividades produtivas locais, do clima, da geografia e da gastronomia e que não é estranho as características pelas quais as cidades são comumente conhecidas.