Cresce cada vez mais a aceitação no mundo da ideia de que aumentar a quantidade de vias não resolve o trânsito porque, ao invés de acomodar com mais sobra os veículos que circulam, isso só incentiva mais gente a tirar o carro da garagem. Por isso, medidas como alargamento ou aumento de avenidas ou ruas estão perdendo espaço no planejamento urbano. Justamente o que não fez o governo do Texas para resolver um problema viário na Grande Dallas. E deu certo.
ENTENDA: Por que construir mais ruas não melhora o trânsito (pelo contrário)
A State Highway 161 era um dos gargalos do sistema de autopistas da Metroplex, região metropolitana que envolve Dallas e Fort Worth. A SH 161, também chamada President George Bush Turnpike, faz o sentido norte-sul, cruzando com as várias vias expressas que ligam as duas cidades e o aeroporto internacional de Dallas/Fort Worth, o terceiro mais movimentado do mundo em número de aeronaves. Para reduzir o engarrafamento que toma as pistas na hora do rush, a administração de estradas do Texas decidiu alargar um trecho de 3 milhas (4,8 km) da via em setembro.
O plano foi encarado com ceticismo de muitos planejadores urbanos, mas teve resultado. Com uma faixa de rodagem a mais, a velocidade média dobrou no primeiro mês, de 49 km/h para 106 km/h – o que significa basicamente pista livre. Como esperado, esse efeito imediato já passou e o trânsito voltou a piorar, mas ainda está em níveis melhores que os de antes das obras. Por quê? Bem, o caso da Highway 161 não serve para derrubar nenhum conceito, apenas para mostrar que circunstâncias especiais podem exigir medidas específicas.
Os congestionamentos da Bush Turnpike não eram causados apenas pelo excesso de carros em relação à capacidade da via. O maior causador de lentidão era um afunilamento que ocorria em um acesso. Com três pistas se transformando em duas, os carros tinham de se acomodar em um processo que sempre causa parada ou lentidão. Com a faixa extra, não há mais o afunilamento e o fluxo segue no mesmo ritmo.
O ponto mais interessante da intervenção realizada em Dallas é que o alargamento é provisório e pode ser revertido se o resultado positivo inicial não se mantiver. Para isso, o Departamento de Transporte do Texas (TxDOT) apenas liberou o uso do acostamento esquerdo na hora do rush, das 6 às 10h e das 14 às 19h. Para isso, a faixa extra foi recapeada para se tornar mais adequada ao tráfego mais intenso, foi instalada sinalização específica e a administração da rodovia aumentou a quantidade de carros de serviço para atender mais rapidamente os veículos que tiverem problemas e não terão o acostamento esquerdo (o direito continuou intacto).
A solução permitiu que o alargamento da SH 161 custasse apenas US$ 4,25 milhões. Um custo bem discreto considerando que a construção convencional de novas faixas ou pistas em todo o sistema viário da Metroplex está calculado em mais de US$ 1 bilhão.
O caso da Bush Turnpike mostra que é possível melhorar o fluxo de veículos sem mudar significativamente a estrutura viária. “Em alguns casos, a capacidade pode ser melhorada com um design melhor, realinhando curvas fechadas, melhorando visibilidade, recapeando e refazendo as faixas, reconfigurando os acessos ou reconstruindo os principais gargalos”, comentou Monali Shah, diretora de transporte inteligente na Here Connected Driving, empresa que coleta dado para o uso das autoestradas nos EUA, em entrevista ao jornal Dallas Morning News.
Com uma intervenção de baixo impacto e reversível, os texanos ganham tempo – e economizam dinheiro –, tanto que outras medidas pontuais já são consideradas para outras vias cronicamente congestionadas. Enquanto isso, ganha-se tempo para projetos maiores. O Texas Clear Lanes, programa do TxDOT, defende um investimento no aumento de rodovias pelo estado. Mas o próprio departamento de transportes pretende mudar a abordagem e está preparando um estudo das autopistas das grandes cidades do estado não apenas pelo trânsito, mas pela conexão possível entre os bairros e as perspectivas de planejamento urbano.