Washington tem pouco mais de 209 km de malha metroviária  que há 40 anos foi inaugurada com a promessa de oferecer uma alternativa eficiente aos congestionamentos e estacionamentos lotados. Conforto, conveniência e segurança e beleza (sim, isso mesmo) eram alguns dos atributos anunciados para atrair usuários para a nova opção de transporte público de massa. Ainda que um estudo de 1982 já apontasse como inapta a fragmentada administração do sistema, o número de passageiros aumentou anualmente por 13 anos seguidos desde 1996.

O cenário começou a mudar em 2010. Apesar de a população da capital continuar crescendo, o número de passageiros cai a cada ano e já é 5% menor que o da virada da década. A administração do metrô usava a crise econômica e fatores sociais para justificar essa queda, mas acabou admitindo que o principal motivo é que os moradores da capital dos Estados Unidos perderam a confiança no serviço.

A taxa de pontualidade média das linhas foi de 84% em 2015, seis pontos percentuais a menos que em 2012. Interrupções no serviço são preocupações cotidianas dos passageiros do metrô da região. Em 24 de abril, o jornal Washington Post fez um levantamento dos alertas de funcionamento irregular emitidos. Resultado: em 24 horas foram registrados 19 avisos. Não foi por acaso que o sistema transportou apenas 214 milhões de passageiros por ano em 2015, em contraste com os 225 milhões no ano de 2009. As pessoas querem usar um meio de transporte conveniente e previsível, quesitos nos quais o transporte sobre trilhos da capital está deixando a desejar.

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Mas a pontualidade não é a única fonte da insatisfação dos usuários do metrô. Problemas de segurança também são frequentes. Em março, o serviço passou por uma interrupção emergencial de um dia para uma inspeção na qual foram descobertos 26 pontos dos cabos elétricos e conexões que estavam danificados ou desgastados, sendo que três deles precisavam de reparos imediatos. O que motivou a suspensão do serviço foi um incêndio em um túnel próximo a estação McPherson Square, que teve início no sistema elétrico. Há um ano, passageiros ficaram presos dentro do trem por 40 minutos em túnel cheio de fumaça, e um deles não sobreviveu. No último dia 12, mais de 100 passageiros ficaram presos por aproximadamente uma hora em um trem que estava a caminho da estação Rosselyn, mas ficou paralisado depois de um problema mecânico.

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O acidente com mais vítimas fatais no metrô de Washington aconteceu justamente no último ano antes do número de frequentadores começar a cair. Uma falha que derrubou o sistema de comunicação entre trens dirigidos por computadores causou uma colisão traseira com uma unidade parada nos trilhos, matando nove pessoas em 2009. Desde então, todo o sistema tem sido comandado manualmente, com humanos nos controles.

A cara manutenção da infraestrutura e o fato de as administrações dos estados de Maryland e Virginia e do Distrito de Colúmbia (distrito federal) não estarem interessadas em arcar com os custos do único grande sistema de transporte americano que não possui uma fonte segura de financiamento é apontado como um dos fatores responsáveis pelos problemas enfrentados. Somados a isso, falhas de projeto, a prioridade dada à expansão em detrimento da conservação, a falta de uma cultura de segurança e a carência de comunicação entre trabalhadores e seus chefes têm levado o metrô de crise em crise ao longo dos últimos anos.

O sistema, que trouxe consigo a promessa de eficiência, falha constantemente com seus passageiros. O caso de Washington é um exemplo de que não adianta instalar um sistema sem planejar como ele se sustenta ou fazer um projeto às pressas e deixá-lo à própria sorte. Ele foi concebido para transportar massas, mas para isso é preciso oferecer o mínimo de confiabilidade para que as pessoas possam acreditar que chegarão ao seu destino sem maiores contratempos. Como está cada vez mais difícil depender da sua funcionalidade, o aproveitamento total da sua capacidade está se tornando apenas mais um potencial não realizado.