Há poucas coisas mais americanas do que o refrigerante. Eles foram criados na Europa, mas foi nos Estados Unidos que se transformaram em uma indústria poderosa a ponto de criar algumas das marcas mais reconhecíveis do mundo (sim, estou falando da Coca-Cola e da Pepsi). Mas as bebidas gaseificadas começam a ter problemas, com várias cidades cogitando formas de inibir seu consumo. O caso mais recente foi da Filadélfia, que aprovou um projeto de lei que cria um imposto em cima desses produtos.
A taxa do refrigerante é polêmica. Ela prevê o pagamento de US$ 0,015 a cada onça fluida (30 ml) de bebidas com açúcar ou diet. Se esse valor for repassado ao consumidor, uma lata deve ficar US$ 0,18 mais cara. O imposto só entra em vigor em 1º de janeiro de 2017. Não é uma medida completamente inédita. Entre as grandes cidades americanas, Chicago já tem uma lei similar.
O motivo desse ataque às bebidas gaseificadas é, teoricamente, a saúde pública. E aí cria-se a polêmica. Os Estados Unidos têm um problema real e sério de obesidade. Na Filadélfia, 68% dos adultos e 41% das crianças estão acima do peso.
Os defensores do imposto alegam que o poder público apenas está ajudando as pessoas a terem uma vida mais saudável sem obrigar ninguém a nada. Os críticos consideram que não é papel do governo induzir os hábitos de consumos da população, pois é direito de cada um beber o que quiser. Além disso, alegam que a taxação prejudicaria as pessoas de menor poder aquisitivo, tradicionalmente os maiores consumidores de comidas industrializadas no país.
Para evitar que o debate caia na questão do direito de escolha, a prefeitura tem mudado o enfoque. Mas tornou o conceito do imposto ainda mais estranho. Ele foi colocado apenas como mais um imposto, e que os benefícios à saúde da população seria apenas um “bônus”. O dinheiro arrecadado será utilizado para projetos sem nenhuma ligação com a saúde pública, como pagar benefícios aos funcionários municipais e aumentar as reservas da cidade.
Nesse cenário, o imposto do refrigerante fica com cara de uma ideia de boas intenções, mas que não tem muito sentido. Se é para aumentar o caixa municipal e tratar melhor os funcionários, há diversos outros bens que poderiam ser taxados sem afetar mais um grupo social – justamente o mais vulnerável – do que outro. Se for pela saúde pública, que os recursos sejam destinados a isso, com melhoria no atendimento em hospitais e postos de saúde ou criação de campanhas de conscientîzação.
Mas, mais do que ir às bebidas, uma área que talvez tivesse efeito mais rápido e duradouro pelo caráter educativo seria promover o consumo de produtos locais e frescos e, principalmente, mexer nas merendas escolares. Na página do distrito escolar da Filadélfia, é possível ver o cardápio das escolas da cidade na próxima semana. As crianças e adolescentes almoçarão frango frito com molho barbecue (segunda, 21), carne com molho (terça) e um chamativo “faça sua própria pizza” (quarta). Sempre com referências explícitas do fornecedor de cada ingrediente, invariavelmente grandes indústrias.
Tudo bem, é melhor que muita merenda escolar oferecida no Brasil e certamente as crianças adoram frango frito, carne ou pizza. Mas “saudável” não é uma palavra que vem a mente quando se pensa nesse menu. Por isso, os refrigerantes não são saudáveis e deveriam ser consumidos em quantidade mais moderada que a média americana, mas dificilmente inibir seu consumo fará diferença quando se come tanta coisa industrializada e pesada desde pequeno.