O Uber cresceu tanto e tão rápido que, daqui a pouco, muita gente nem lembrará direito como era a vida antes dele. Mas Austin, capital do estado do Texas, está se organizando como uma sociedade pós-Uber. O serviço foi suspenso depois que o plano de autorregulação apresentado por empresas do setor foi rejeitado por 56% dos votantes. A lei aprovada era muito mais restritiva, prevendo a verificação de antecedentes e cadastro das impressões digitais dos motoristas. O Uber e o Lyft preferiram suspender os serviços a aderir às regulações.
Mesmo que tenha deixado para trás seus usuários e aproximadamente 10 mil condutores, a ausência dos serviços de transporte individual sob demanda dessas empresas resultaram no surgimento de opções melhores para ambos. Uber e Lyft dominam o mercado em muitas cidades, deixando nenhum espaço para concorrentes menores. Na capital texana, modos alternativos de transporte ganharam uma chance.
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As duas companhias impunham seus preços e mudavam suas políticas sem medo de perder usuários ou condutores, uma vez que isso não causaria prejuízo suficiente para comprometer sua operação. O vazio deixado pelo Uber foi preenchido por empresas locais como Wingz, Get Me, Fasten e Fare. De início, a Wingz, por exemplo, fornecia o serviço de corridas agendadas com antecedência até o aeroporto. Depois que Uber e Lyft pararam de operar no local, os motoristas viram na empresa uma oportunidade de rendimentos menos sujeitos à variações da tarifa dinâmica. Em outra empresa, a Arcade City, os condutores se organizam em equipes e dão referências uns dos outros quando se deparam com uma demanda que não podem atender porque já estão ocupados.
A Arcade City é administrada de forma descentralizada e as discussões sobre seu funcionamento se dão tanto em grupos do Facebook quanto em reuniões onde condutores se encontram para debates sobre como lidar com a polícia. As impressões digitais de verificação de antecedentes são opcionais na plataforma e os seus criadores defendem que o que caracteriza o serviço é que o passageiro escolhe quem ele quer que o conduza. O sistema opera dentro dos valores-limite para a cobrança de impostos (US$ 0,54/milha) e os motoristas recebem pagamentos dos passageiros na forma de doações.
Já a RideAustin está recolhendo impressões digitais de todos os seus 800 motoristas, mas sua operação ainda se limita ao centro da cidade. A empresa promete pagamentos maiores para os condutores e taxas menores para os passageiros, que seriam possibilitadas pelo seu funcionamento em um modelo não-lucrativo.
O mercado se tornou altamente competitivo, ainda que seja pouco provável que todas as atuais provedoras do serviço continuem operando. As reclamações sobre os serviços se multiplicam e o equilíbrio entre a demanda e a oferta é ainda mais difícil de alcançar quando tantas opções estão em disponíveis. Por outro lado, a diversidade de prestadores diminui as chances da cidade voltar tão cedo atrás e aceitar o Uber e o Lyft de volta. Quando, e se, eles voltarem, terão concorrentes locais estabelecidos e experientes em lidar com um mercado igualmente local.