O pior erro no discurso do “Dia Mundial Sem Carro” é justamente o “sem carro”. via de fato, sou a favor que se reduza o número de veículos de transporte nas ruas – e isso incluí carros e motos.

O problema é que só se vê sempre o discurso de que “troca-se o carro/moto por ônibus, trem, caminhada e bicicleta”, ignorando que boa parte da população é aculturada a ter um automóvel como “símbolo de independência” e que ao menos no Brasil, temos uma mania similar americana de deixar subúrbios longe dos centros de comércio e indústrias. Os deslocamentos, principalmente a pessoas mais pobres, é mais demorado e estressante. E para pessoas “classe média”, a mudança para bairros que eles consideram mais seguros resulta em lugares mais distantes do trabalho para morar.

Outro erro que acaba acometendo muitos é a criação de preconceitos generalizados contra quem usa automóvel. O termo “carro-dependência” por exemplo, tratando um condutor de automóvel qualquer como um dependente químico, ofende tanto motoristas quanto pessoas em tratamento por dependências. Não se pode humilhar quem está sob tratamento, até porque no final do jeito que é tratado as situações, as pessoas acabam vendo isso de forma errada e criando “trincheiras”, polarizando o debate.

Claro, o que tem que combater é gearhead/motorhead/petrolhead, pois geralmente estes são displicentes com atitudes criminosas no trânsito. Até hoje acho estranho quando não se investiga a fundo sobre motoristas de carros esportivos andando acima dos limites de velocidade nas rodovias e vias públicas. No final, isso é mais tratado de forma genérica, seja pela polícia ou pela imprensa, do que tratado de forma focada e direta a quem se suspeita de atitudes criminosas no trânsito.

O que precisamos para tirar os carros das ruas é fazer as pessoas se sentirem realmente motivadas a tirarem os carros das ruas. E isso não se faz com restrições (só). Vide que mesmo com as atitudes de redução de velocidade em São Paulo, as pessoas infelizmente não viram isso de forma positiva e vivem a reclamar, mesmo que resmungando, sobre as reduções e seus benefícios.

Para as pessoas não dependerem de automóveis, o transporte público e os itens que ela precisa se deslocar precisam estar perto destas. Por quê não incentivar a criação de mini centros comerciais em bairros distantes? Em regiões residenciais e condomínios? Por que não parar com o incentivo de criação de distritos indústriais e logísticos muito longe de bairros? Ou melhor: por quê não fazer um transporte eficiente e rápido entre o distrito industrial e os bairros? Hoje se usa muito os serviços de “fretamento”, mas isso não ajuda muito.

Enfim, a discussão não pode ficar no “sem carro” só, mas sim no desincentivo ao uso do automóvel. Quanto mais puder deixar as pessoas confortáveis para sairem de casa sem depender do veículo, melhor. Com mais segurança pública, mais conforto no transporte, mais eficiência e menos distância. 🙂

defina “lixo”.

Eu não vejo assim tanto quanto você. Depende muito do lugar e da situação.

Pensamentos como o seu é que no final também ajudam a infelizmente ter mais carros nas ruas do que ter ônibus.