As cidades holandesas estão se esforçando para tornar a pobreza invisível em suas áreas centrais. Utrecht e Roterdã estão entre as quatro maiores cidades da Holanda, sendo que a última está atualmente passando por um processo higienista que busca atrair mais turistas, afastando os pedintes das ruas do centro. O município possui uma taxa de desemprego, 12%, relativamente alta se comparada com Amsterdã (7,7%) ou Haia (10%).
Quem passa pelas ruas de Roterdã continuará sem poder ver os pedintes, mas temporariamente poderá ouvir seus apelos pelas ruas. Eles virão de nove caixas de som acompanhadas por um copo para receber dinheiro dos mais generosos. O artista responsável por espalhar os equipamentos pela cidade, Dries Verhoeven, conta que muitas pessoas deixam um trocado, assim como outras as levavam embora.
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A transferência de dinheiro acontece, mas não é o principal objetivo do projeto, chamado de Songs for Thomas Piketty. “Quando você se vê dando mais atenção para uma máquina que para a pessoa que ela representa, começa a pensar sobre sua atitude cotidiana com os sem teto ou necessitados”, diz Verhoeven. O artista busca destacar os contrastes nos ambientes cada vez mais uniformemente ordenados dos espaços públicos.
As gravações foram feitas com pedidos de pessoas que vivem nas ruas de Amsterdã. A cidade é a próxima parada dos aparelhos, que atualmente se encontram em Utrecht, antes de partir para a Bélgica. A localização das caixas de som é atualizada toda semana no site.
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Verhoeven chama a atenção para a forma como o design das cidades é cada vez mais hostil, citando os parques e passeios com bancos nos quais é impossível dormir. O artista considera que os espaços públicos estão se tornando cada vez menos lugares para o público. O ato de pedir dinheiro em locais comuns também é proibido na Noruega, em muitos estados australianos e algumas cidades americanas.
O projeto leva o nome do economista francês Thomas Piketty, cujo trabalho aborda questões de desigualdade e distribuição de renda. Ele acredita que o desenvolvimento econômico leva ao aumento das disparidades sociais. Apesar disso, o que se ouve entre uma gravação e outra vinda dos equipamentos de som são músicas sobre união, como o hino nacional francês e o europeu.