Espaços públicos onde as crianças brincam são os mais seguros e bem cuidados. Partindo dessa ideia, um grupo de estudantes de arquitetura de Madri resolveu usar material que teria o lixo como destino para realizar intervenções lúdicas na cidade e de apelo estético para se destacar na paisagem. Assim surgiu o Basurama.

O coletivo criado em 2001 atua com projetos que buscam integrar pessoas de diferentes áreas de atuação na sua concepção e execução. Dez anos depois, o Basurama passou a atuar também em São Paulo, com a mudança de Miguel Rodríguez, um de seus fundadores, para o Brasil. Em conjunto com outros grupos e também em parceria com colaboradores individuais, o grupo realizou intervenções no centro expandido, no Jardim Miriam, na União de Vila Nova, no Jardim Queraluz, em São Miguel Paulista, entre outros bairros.

O trabalho na região periférica da capital paulista começou depois que pessoas que atuavam nesses locais procuraram o Basurama porque tinham interesse em criar brinquedos onde não havia nenhum espaço de lazer para as crianças. Para intervir nesses locais com os poucos recursos disponíveis – basicamente material descartado e trabalho coletivo –, foram desenvolvidos processos específicos que resultaram na criação de guias para orientar a ação de comunidades interessadas realizar instalações lúdicas.

O Basurama atua principalmente com recursos de instituições que influenciam no resultado final de seu trabalho. Mesmo nesses casos, o material de trabalho é buscado naquilo que foi descartado – para construir um parque encomendado pelo Sesc Campo Limpo, por exemplo, o coletivo buscou primeiro saber se havia algum resíduo lá que pudesse ser utilizado.

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Desde o início, os membros do Basurama – que atualmente são oito pessoas que se dividem entre Madri, Bilbao e Milão, onde Miguel mora há um mês – tinham interesse em trabalhar com coisas que iam para o lixo. Além de usar o que há de disponível em cada local, o grupo também verifica a resistência e outras características de cada material para determinar os usos possíveis. O coletivo foi listado pelo Guardian como uma das iniciativas de economia circular espanholas para se prestar atenção.

“O verdadeiro descoberta do Basurama foi ver que as pessoas são a parte mais importante da equação do espaço urbano. Se nós não cuidarmos, vira um espaço de ninguém e isso gera degradação. Tudo pode virar lixo”, diz Miguel. Enquanto os brinquedos instalados na periferia de São Paulo foram feitos para ficar, outras instalações feitas pelo coletivo são temporárias. Os balanços instalados no Minhocão, por exemplo, foram feitos durante o Festival Baixo Centro, em 2013, e depois replicados no Viaduto do Chá durante a Virada Cultural do mesmo ano. A ideia foi uma das primeiras desenhadas por Ángela León – autora do “Guia Fantástico de São Paulo”, com quem Miguel é casado – e foi executada em parceria com o coletivo MUDA.

Durante os quatro anos que viveu em São Paulo, Miguel participou de movimentos como o Parque Augusta e o Existe Amor em SP. “Há uma mobilização geral que busca o empoderamento de tentar recuperar o espaço público como lugar de troca, de convívio cidadão. Foi muito importante para minha experiência na cidade me engajar com essas causas”, conta Miguel. Ele conta que um dos motivos para a mudança para Milão foi a relação da cidade com o design, pois pretende se aprofundar em questões tecnológicas que também são importantes para o trabalho no Basurama. “No Brasil, nós desenvolvemos muito o caráter social do coletivo, trabalhando na periferia e nas ruas. Agora estamos desenvolvendo outra parte, já que para nós é muito importante o interesse, a necessidade da aprendizagem. Estudar faz parte do trabalho, é através dos projetos que conhecemos a cidade e novos coletivos.”