O Fundo para População das Nações Unidas estima que em 2050, mais de 50% da população acima de 60 anos viverá nos centros urbanos. Envelhecer é inevitável, mas, como cada vez mais gente está vivendo por mais tempo e tendo menos filhos, a população idosa também passa a crescer proporcionalmente em relação às outras faixas etárias. Somado a isso a tendência ao aumento no número de pessoas vivendo nas cidades, a necessidade de se pensar ambientes acessíveis para os mais velhos se faz cada vez mais urgente.

Idosos dirigem menos, e tendem a usar mais caminhadas e transporte público em seus deslocamentos, segundo o relatório Shaping Ageing Cities. A gratuidade do transporte coletivo para os mais velhos é prevista pelo Estatuto do Idoso, mas a vida de quem usa esse recurso não é fácil  (como apontou essa matéria sobre o Rio de Janeiro com relatos de motoristas que param fora do ponto e veículos altos que dificultam o embarque), entre outras coisas. Conseguir ir e vir facilmente é fundamental para que os idosos tenham um mínimo de autonomia e não viva isolado da comunidade.

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Garantir a segurança dos pedestres também é fundamental para que os idosos possam se locomover sem maiores dificuldades pelas cidades. Em São Paulo, idosos correspondem a aproximadamente 40% das mortes de pedestres no trânsito, segundo relatório da CET. Mais tempo de semáforo, fiscalização, limites baixos de velocidade, educação de condutores e vias com condições amigáveis para a travessia a pé – que não sejam muito largas – são fundamentais não só para os idosos, mas especialmente necessários para moradores com essa faixa etária.

Enquanto aqui a população jovem ainda é maioria com folga, o Japão concentra a população mais velha do mundo: 33% passou dos 60, 25% tem mais de 65 e 12,5% está acima dos 75. As cidades japonesas priorizam o aumento da densidade como política urbana para se tornarem mais apropriadas para os mais velhos. Mais gente em menos espaço resulta em distâncias menores entre moradia e serviços básicos. Isso favorece os deslocamentos a pé, de transporte público e bicicleta.

Cidades com manchas urbanas muito extensas dificultam a locomoção de todos, mas principalmente de quem tem condições reduzidas de mobilidade. A ideia de construir cidades do zero já com as características necessárias pode parecer interessante, de início. No entanto, esses espaços segregam pessoas que não necessariamente estão dispostas a deixar a comunidade onde escolheram viver e que desejam o convívio urbano.

As adaptações que fazem das cidades lugares melhores para os idosos, na verdade, fazem delas locais melhores e ponto. Não é como se fosse um problema as pessoas envelhecerem, mas sim que alguns problemas que afetam não só os idosos precisam de uma atenção extra. E também não é como se os centros urbanos precisassem investir pesado em tecnologia ou infraestrutura exclusivamente para estarem aptos ao crescimento da população idosa. Mas também não é algo que elas podem continuar ignorando por muito mais tempo.