O que é? Hong Kong tem uma maiores densidades populacionais do planeta, com mais de 7 milhões de habitantes ocupando seus pouco mais de mil quilômetros quadrados de terreno montanhoso. Com tanta gente disputando espaço, o costume de enterrar os mortos em cemitérios e visita-los para prestar homenagem está sendo ameaçado.

Sem espaço para abrigar os que se foram

O governo de Hong Kong quer que os habitantes da ilha abandonem o cerimonial tradicional de despedida dos entes queridos. Com o número de mortes aumentando, a escassez de espaço levou as autoridades a incentivarem os moradores a procurarem destinos alternativos para os restos mortais daqueles que faleceram. Isso porque os cemitérios atuais já têm uma dose razoável de improviso, ocupando encostas de montanhas ou áreas costeiras.

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Ainda nos anos 60, quando Hong Kong era uma colônia britânica, os moradores já enfrentavam uma situação parecida. Na época, o governo passou a incentivar as famílias dos mortos a substituírem o enterro pela cremação. No entanto, ter um espaço físico para visitar e relembrar familiares e amigos que já morreram é parte importante da cultura local. Em feriados, parentes costumam levar dinheiro, comida e outras oferendas até os túmulos.

Para preservar pelo menos uma parte desses costumes, foram construídos columbários onde as cinzas poderiam ser depositadas. Isso foi suficiente por algum tempo, mas,hoje, mesmo as pequenas portinhas que cobrem as paredes dos memoriais onde as urnas funerárias são guardadas estão em falta.

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Para tentar aliviar a situação, organizações públicas e privadas estão oferecendo formas inusitadas para as famílias prestarem seus respeitos aos mortos sem comprometer o pouco espaço disponível para acomodar os vivos. O governo desenvolveu um site onde as famílias podem fazer oferendas virtuais. Também há um laboratório que transforma restos mortais em pedras preciosas para que os parentes as mantenham em casa ou até mesmo usem como joias.

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Com os preços dos imóveis em alta e o espaço limitado disponível para construir, o problema tende a se tornar mais crônico conforme a população envelhece. O número anual de mortes deve subir de 42,7 mil em 2010 para aproximadamente 50,3 mil no fim dessa década, de acordo com as previsões da administração pública local.

Outra alternativa promovida pelo governo são os “enterros verdes”, ou seja, incentivos para os habitantes jogarem as cinzas de seus familiares no mar ou em jardins cultivados especialmente para esse fim. No entanto, esses locais permanecem desertos, pois os habitantes locais acreditam que estariam desrespeitando as suas tradições ao cooperar com o poder público nesse caso. No cemitério do bairro de Wo Hop Shek, por exemplo, apenas 300 das 9 mil placas feitas para sustentar os nomes daqueles que descansam ali  não estão em branco.

Hoje, aproximadamente 90% dos mortos de Hong Kong são cremados e os poucos espaços disponíveis em columbários são proibitivamente caros. A administração pública tem planos de construir estruturas com capacidade para abrigar centenas de milhares de pessoas nos próximos anos, mas os moradores não relutam apenas em usar, mas também em permitir que elas sejam implantadas. Os habitantes da metrópole estão preocupados com a desvalorização dos imóveis, medo de fantasmas e desrespeito aos princípios do feng shui, o tradicional sistema chinês de harmonização de ambientes.