Primeiro são reunidas propostas que expressam as demandas de frequentadores de um local. Depois vem o delicado trabalho de definir o que pode ser feito e como pode ser feito, eventualmente explicando a inviabilidade de realizar alguns desejos comuns, mas fora do alcance. Depois são feitos os mutirões, com a mobilização de organizações de apoio, de acordo com o projeto definido para cada lugar. E aí vem a definição das tarefas de manutenção.
Assim funcionam as transformações urbanas do Acupuntura Urbana: cada necessidade e cada desejo são respondidos pontualmente, de acordo com a disponibilidade de recursos e tempo – normalmente as mudanças são feitas em dois dias – com a participação da comunidade do entorno. “Eu tinha um grupo de discussões sobre urbanismo que se reunia uma vez por semana, mas queria me dedicar integralmente a isso”, conta Renata Strengerowski , que deixou seu emprego em 2012 para começar a iniciativa.
O projeto tem o mesmo nome de um livro escrito por Jaime Lerner, urbanista, ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba. Renata considera o fato uma “feliz coincidência”. “Descobri isso depois escolher o nome e fui ler o livro. As nossas atividades são um complemento do que ele propõe, pois é feito em uma escala mais local.” A ideia de promover ações pontuais motivou a analogia com a terapia oriental realizada com agulhas que fazem a energia circular.
As ações do Acupuntura Urbana são sempre realizadas em parceria com outras organizações, sendo que 95% delas são viabilizadas pela iniciativa privada e 5% por editais. Há um ano e meio, Renata passou a trabalhar em conjunto com Inês Fernandes e Andrea Sender. O trio, que já realizou atividades nos bairros de Jardim Edite, Perus e Jabaquara, tem planos de realizar intervenções no Maranhão em agosto.
A transformação urbana é um dos três tipos de atividades realizados por elas, que engloba as outras duas. O mapeamento afetivo e a ocupativação – mapear a relação das pessoas com o bairro a partir do que elas contam e testar usos para os lugares que são definidos a partir de reuniões com diferentes grupos de interesse locais, respectivamente – são etapas da transformação, mas também podem ser realizadas independentemente.
Quanto mais gente participa, maior a escala da intervenção, pois a captação de recursos também depende da mobilização das pessoas. “Cada comunidade tem o espaço que merece, no bom sentido”, diz Renata. São necessárias, no mínimo, 30 pessoas para a realização de um mutirão, que geralmente acontece no segundo mês depois que as atividades são iniciadas no local. A participação dos frequentadores como parte da transformação é a base das ações realizadas pelo Acupuntura Urbana, e as tarefas de manutenção são divididas conforme a disponibilidade e o interesse dos envolvidos.
Renata será uma das participantes do painel Gentilezas Urbanas, do Festival Path, no qual pretende discutir formas de buscar e fazer parte das soluções para problemas urbanos. O evento ocorre entre 14 e 15 de maio em diversos pontos da região do bairro de Pinheiros, em São Paulo. Os ingressos variam de R$ 40 (um dia de shows) a R$ 249 (pacote completo com palestras e shows) e podem ser comprados diretamente no site. A F451, empresa que publica o Outra Cidade, a Trivela, o Risca Faca e o Extratime, é parceira de mídia do evento.
Festival Path 2016: Gentilezas Urbanas
|