O que era para ser uma grande notícia se tornou preocupação. Columbus, 15ª maior cidade dos Estados Unidos (cerca de 2 milhões de habitantes na região metropolitana), venceu um concurso de cidades inteligentes organizado pelo Departamento de Transporte dos EUA e receberá US$ 50 milhões para projetos de mobilidade. Além disso, a capital do estado de Ohio terá a possibilidade de firmar parceria com a Sidewalk Labs, empresa da Alphabet (grupo que controla o Google), para implementar essas ideias.

Parecia bom, até que o jornal Guardian resolveu vasculhar os documentos de acesso público ligados aos projetos apresentados. E um deles deixa a entender que Columbus estaria se preparando para um futuro em que serviços como o Uber substituiria o ônibus como principal meio de transporte para o trabalhador comum. Uma perspectiva assustadora.

Como parte da premiação, a prefeitura de Columbus terá acesso ao Flow, programa que reúne diversas ferramentas de mapeamento do Google, para incorporar a seu sistema de gerenciamento de tráfego. Um dos usos imaginado é identificar vagas disponíveis nas ruas – e os estacionamentos privados poderia aderir ao sistema – para os motoristas se dirigirem diretamente a um local onde poderia parar, economizando tempo dando voltas em busca de uma brecha.

O problema é que outro plano apresentado envolve integrar os dados do Flow e do Google Maps para gerencir viagens de ônibus, táxis, Uber, Lyft e outros sistemas de transporte compartilhado.  Como teste, a Sidewalk pretende selecionar 90 mil pessoas que recebem descontos para utilizar o ônibus diariamente. A ideia é realocar o dinheiro do subsídio da passagem deles em corridas com descontos em serviços de compartilhamento de veículos.

Aí o panorama muda. Se o dinheiro da passagem dos trabalhadores se transformar em corridas de Uber, o sistema de ônibus fica asfixiado por falta de recursos. Mesmo que indiretamente, esse modelo acabaria levando à substituição dos coletivos por carros privados, tornando todo o transporte público da cidade muito vulnerável e sobrecarregado pelo excesso de automóveis nas ruas.

Um dia depois de o Guardian publicar a reportagem, a Sidewalk Labs tentou desmentir a informação. Segundo Anand Babu, COO da empresa, o Flow “permitirá às cidades compreenderem seu sistema de transporte em tempo real e pode ser usado para melhorar e planejar o transporte público (…), indicando às pessoas quais as opções de mobilidade compartilhada onde não há transporte público”.

Tecnicamente, a versão da empresa está correta. Mas pequenos detalhes do plano podem levar a essa substituição de modais, e é preciso ela própria apresentar um modelo que não se transforme indiretamente em um ataque ao transporte público.