O que é? Abhijeet Barse encontrou no futebol um instrumento para educar, desenvolver habilidades e transformar comunidades na periferia de Nagpur. O Slum Soccer é um programa que busca espalhar por toda a Índia a suas ações de prevenção de doenças, treinamento, educação e assistência social partindo do princípio inclusivo de que cada pessoa é um jogador em potencial.

O poder do jogo

Enquanto a maior parte da pessoas do planeta já se concentra em áreas altamente urbanizadas, o crescimento da população das cidades indianas se mantém estável e massivo. A projeção é que o país, que hoje abriga a maior população rural do mundo, tenha 404 milhões de novos moradores em áreas urbanas em 2030. O boom das favelas justaposto à prosperidade dos cada vez maiores centros urbanos da Índia não cria apenas contrastes, mas também desafia limites. Até que ponto é uma cidade é capaz de distribuir oportunidades e acomodar uma população em plena expansão?

Em 1999, um indiano começou criar oportunidades para a população periférica que se espalharam por favelas e mais favelas onde bolas de futebol começaram a rolar. Abhijeet Barse coordena um programa que promove o desenvolvimento social e a educação por meio do esporte atuando em 63 distritos com a pretensão de alcançar abrangência nacional.

Abhjeet posa com seu pai e o time vencedor do campeonato nacional de Slum Soccer (Slum Soccer/Divulgação)

Abhijeet posa com seu pai e o time vencedor do campeonato nacional de Slum Soccer (Slum Soccer/Divulgação)

Ao ver crianças chutando um balde num terreno lamacento de uma favela de Nagpur, o pai de Abhijeet e professor de esportes, Vijay Barse, foi até o seu departamento buscar uma bola para elas jogarem. No mesmo dia, trouxe mais 30 bolas e estendeu à outros meninos e meninas o convite para o jogo. Um ano depois ele organizou um torneio no qual 128 times foram inscritos. Assim nasceu o Slum Soccer.

Depois completar seus estudos de pós-doutorado nos Estados Unidos, Abhijeet voltou para a Índia determinado a seguir os passos de seu pai e ampliou a iniciativa em 2001, quando começou a treinar jovens para que eles tivessem condições de se destacar no futebol. Foi dessa forma que o Slum Soccer, que começou cultivando transformação, amizade e confiança dentro de campo, cresceu para abrigar ações educativas e preventivas que reverberassem além das quatro linhas.

 

Esporte por si só não é suficiente. Eu gostaria de dizer que qualquer um que se envolve em atividades esportivas se torna um líder de equipe ou um jogador de futebol, mas isso não acontece. Então nós adicionamos outros valores ao esporte. Temos jogos que falam sobre igualdade de gênero, inclusão e mesmo em questões como a Aids nós podemos usar esse canal que é o futebol.

Abhijeet Barse, CEO do Slum Soccer

Em busca de novas maneiras de prevenir a doença entre os jovens, um torneio temático foi realizado em Nagpur com 70 jogadores no Dia Mundial de Combate à Aids. Uma das atividades foi um jogo chamado “Você consegue ver o HIV?”, no qual os jogadores ficavam dispostos em linha e um deles se encarregava de identificar o portador do vírus, representado por uma pedra presa nas costas do “infectado”. A atividade tinha como objetivo alertar os jogadores para o fato de que o vírus é invisível.

Outras ações do Slum Soccer são mais expressivas e menos representativas, como meninos e meninas jogando juntos em condições de igualdade. O programa mantém em média 85% dos participantes “longe de problemas” – que vão desde desnutrição até violência – e a mesma proporção consegue reduzir seu índice de massa corporal. Cada jovem recebe treinamento esportivo três vezes por semana e uma hora e meia de mentoria diariamente.

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Abhijeet Barse, CEO do Slum Soccer (Slum Soccer/Divulgação)

Abhijeet fez questão de fazer das academias do Slum Soccer ambientes acolhedores e de promover a sensação de pertencimento entre os jovens. Ele acredita que a inclusão pelo esporte tem o poder de fazer com que cada um deles se sinta um membro da sociedade. Assim como a população das grandes cidades da Índia, o seu trabalho também cresce exponencialmente e já alcançou cerca de 70 mil indianos.

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