O que é? “Uma Nova Esperança” é o nome do quarto episódio da série Star Wars (ou Guerra nas Estrelas, como preferir), mas, para uma cidade tunisiana, também acompanha a sétima parte, com lançamento mundial previsto para este fim de semana. Tataouine tenta usar sua ligação com a saga do cinema como um dos elementos para reerguer a indústria do turismo na Tunísia, abalada desde a Primavera Árabe.
Terra de ninguém?
Tatooine é um planeta hostil, inóspito e que não foi feito para seres humanos. Aquecido por uma estrela binária, tem temperaturas que impedem o desenvolvimento de uma civilização mais tecnológica. Sua economia se baseia em algumas fazendas e minas, mas o fato de o Império praticamente não exercer seu poder nesse ponto isolado da galáxia tornou esse mundo um local sem lei, ideal para contrabandistas – e também para quem desejava se esconder.
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Apesar de os fãs mais fervorosos levarem tudo isso a sério, o enredo de Star Wars é ficção. Tatooine não existe, Luke Skywalker não foi se esconder na fazenda do tio e Jabba the Hutt não controla lugar algum. Mas a Tunísia ficou preocupada quando viram o que acontecia em Tataouine, cidade no sul do país em que as cenas de Tatooine foram gravadas e que serviu de inspiração no nome e na arquitetura do planeta inóspito.
Em comparação com outros países do Oriente Médio e do Magreb, a Tunísia teve relativo sucesso na transição política após a Primavera Árabe. No entanto, a província de Tataouine fica em uma posição delicada, na fronteira com a Argélia e a Líbia. Em março, três líbios foram presos e dois carregamentos de armas pesadas foram apreendidos na cidade de Tataouine e a CNN publicou uma reportagem sobre a possível presença do Estado Islâmico na região.
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O canal noticiou que o grupo utilizava o sul da Tunísia como passagem de terroristas e armamentos que iam do sul da Argélia para a Líbia (onde há bases de treinamento), além de servir de porta de entrada para ataques em solo tunisiano, como o que matou 23 pessoas no Museu Bardo, em Túnis, e o que matou 38 em um hotel em Sousse. Se desconsiderarmos os alienígenas, as naves espaciais e a existência de espadas de luz, é um cenário semelhante ao de Tatooine. O governo tunisiano negou a informação, afirmando que a região é fortemente vigiada e segura para visitantes.
A negativa foi rápida, até porque a região recebeu uma atenção especial da Tunísia nos últimos tempos. O turismo sempre foi uma fonte de renda importante para a economia tunisiana – cerca de 4% da população trabalha diretamente no setor, mas 20% de alguma forma depende dele – e, para promover o país, havia incentivo para produtores que quisessem gravar um filme na Tunísia. “Guerra nas Estrelas” é o caso mais famoso, mas vários outros filmes tiveram cenas realizadas no país africano, de “Caçadores da Arca Perdida” a “Vida de Brian”, passando por “O Paciente Inglês”.
Essa indústria teve queda acentuada após a Primavera Árabe e o governo tenta recuperar a imagem do país no exterior. Hollywood já havia deixado a Tunísia para trás, mas deixou um legado. Os cenários de Tatooine foram preservados e se transformaram em atração turística. Com a aproximação de um novo episódio da saga estelar, o Escritório Nacional do Turismo Tunisiano viu uma oportunidade.
Em 2014, o órgão entrou em contato com o fã-clube local de Star Wars e pediu um vídeo para promover uma das principais atrações de Tataouine. O resultado foi uma versão do clipe da música Happy, de Pharrell Williams, com pessoas fantasiadas de personagens do filme dançando no cenário em que ele foi gravado. Os “atores” são os próprios membros do fã-clube.
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O cantor inglês não participou do vídeo, mas ajudou a divulgá-lo em suas redes sociais. Só no YouTube, a postagem original do clipe teve 2,3 milhões de visualizações. Qualquer resultado prático foi minado com os ataques terroristas deste ano, mas o lançamento de “O Despertar da Força” pode servir de novo incentivo para promover a cidade que inspirou o nome de um planeta no universo de George Lucas.
“Estamos tentando preservar os locais de filmagem de Tatooine para que os fãs futuros possam visitá-lo, o que é realmente importante para nós”
Mariem Oueslati Ameur, produtor da versão Star Wars de Happy