O que é? Os moradores de Vila Nova Esperança, comunidade no extremo oeste da cidade de São Paulo, cultivam seus próprios alimentos em uma horta comunitária, onde o trabalho colaborativo é remunerado na moeda local que pode ser trocada por beterrabas, couve-flor, manjericão e repolhos fresquinhos. O cultivo das plantas é organizado pela associação de moradores local, presidida por Maria de Lourdes Andrade de Souza, a Lia, que planeja transformar a área em uma comunidade ecológica.

Se todos plantam, todos colhem

Onde antes havia um terreno baldio cheio de lixo hoje existe uma horta na qual as plantas cultivadas recebem cuidados diários. A ideia surgiu para promover a educação ambiental na comunidade de Vila Nova Esperança e foi desenvolvida pela associação de moradores local, que limparam o terreno e começaram a trabalhar nele em 2013. Lia, a presidente da associação, conta que muitos moradores já tinham experiência com o cultivo de alimentos e eles também contaram com a ajuda do Manacás.

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No início, menos de dez moradores se envolveram com o projeto de produzir alimentos saudáveis no terreno que antes era tomado pelo lixo. “Alguns acharam que não ia dar certo, que não tinha nada a ver fazer uma horta. O local da horta era difícil de trabalhar, as pessoas não acreditavam que era possível”, conta Lia.

A região não é atendida pelo sistema de coleta de lixo municipal e também não possui rede de esgoto. Vizinhos do Parque Jequitibá, os moradores estão construindo um mirante em parte do terreno da horta com vista para a área de preservação.

Moradora de Vila Nova Esperança trabalha na horta comunitária local (Maria de Lourdes Andrade de Souza)

Moradora de Vila Nova Esperança trabalha na horta comunitária local (Maria de Lourdes Andrade de Souza)

Atualmente mais de 100 famílias estão envolvidas na manutenção da horta e uma moeda chamada esperança foi criada há quatro meses para estimular os moradores a participar do plantio. Lia conta que qualquer ação que ajude a comunidade a continuar produzindo já é passível de reconhecimento em forma de moeda como, por exemplo, o esforço de servir água para quem está trabalhando com a terra. A moeda tem a função de regular a troca do trabalho executado na horta pelas hortaliças que foram produzidas coletivamente. Qualquer pessoa que tenha as “esperanças” em mãos pode adquirir alimentos cultivados ali.

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Além dos mutirões, quatro bolsistas trabalham diariamente das 6h ao 12h com o cultivo, realizado sem a utilização de agrotóxicos. Com o aumento do número de envolvidos, a associação também precisou aumentar a área de cultivo. Um terreno ao lado da primeira horta, de propriedade da Sabesp, foi doado para que a produção de alimentos se expandisse em 2014. Com a expansão do terreno, a horta praticamente dobrou de tamanho.

Além de promover a educação ambiental, nós queremos ajudar a comunidade. Todo mundo pode comer, todos têm o direito de errar e acertar. Quem não ajudou a plantar pode experimentar o sabor da vitória e depois nós convidamos a pessoa para o mutirão. A partir daí, se ela não participar só fica com o que sobra.
Lia, presidente da associação de moradores da Vila Nova Esperança

Os moradores estão em busca de doações de material para poder construir uma escola para crianças de 0 a 6 anos no espaço disponível. A ideia inicial é usar uma estrutura temporária desenvolver em longo prazo uma construção de taipa para abrigar a iniciativa permanentemente. Os moradores também planejam usar parte da área para fazer um campo de futebol.

No ano passado, o projeto da horta comunitária de Vila Nova Esperança levou o primeiro lugar na categoria Consolidação de Direitos Territoriais e Culturais do Prêmio Milton Santos. Lia conta que a associação realiza um trabalho de coleta de óleo no qual o resíduo é trocado por esperanças (a moeda local) e também pensa em ampliar o sistema e organizar uma coleta de lixo regular na região.