Cingapura é conhecida por ser um ambiente altamente regulado, onde cada pedacinho do espaço urbano, até mesmo as residências, é distribuído pelo poder público segundo critérios que ele mesmo elabora. A estação Tanjong Pagar contrasta com a paisagem local nesse sentido e tem atraído visitantes que buscam passeios mais exploratórios em um lugar que não foi desenhado de maneira a conformar esse tipo de uso.

Sem se preocupar com formalidades, os habitantes da cidade-nação já faziam uso recreativo da estação Tanjong Pagar antes de ela ser incluída nos planos oficiais. Desde fevereiro de 2015, o local,  que passou a ser gerenciado pelo Departamento Territorial de Cingapura, é aberto ao público aos domingos e feriados. A ideia do governo é transformar o lugar em um espaço comunitário multifuncional, preservando sua arquitetura característica. Ali serão instalados uma galeria de arte e um auditório, além de um parque linear que será implantado ao longo dos 24 quilômetros de trilhos.

O contraste da estação com as áreas verdes de Cingapura, que são minuciosamente planejadas e cuidadas, vinha atraindo visitantes desde sua desativação. Muitos moradores aproveitam os feriados para caminhar por onde passavam os trilhos e explorar um espaço que foi, por anos, deixado de lado pelas autoridades locais.

Em Cingapura grafiteiros são sentenciados a cumprir horas de trabalho comunitário e há um lugar específico onde os moradores estão autorizados a organizar ações de protesto, o parque Hong Lim. As decisões sobre o planejamento são tomadas pelo governo sem participação popular e os aspectos mais rotineiros da vida urbana são rigidamente controlados em nome da eficiência.

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Só nos últimos dois anos, 92 mil pessoas visitaram a Tanjong Pagar. O local tem um significado especial: inaugurada em 1932, quando Cingapura ainda era uma colônia britânica, continuou sendo território malaio mesmo após o fim do curto período no qual a cidade-nação fez parte da Federação da Malásia.  Depois de 46 anos de independência, em 2011, a estação passou a ser propriedade de Cingapura. A maior parte dos trilhos voltou para terras malaias, assim como o sultão de Johor, que assumiu os controles e partiu no último trem antes da desativação.

Como os trilhos passavam por diversos bairros, muita gente acredita que aquele lugar pertence a sua comunidade. A popularidade do local como espaço de lazer levanta questões sobre os planos do governo e se as pessoas deveriam ter uma participação maior nas intervenções que serão feitas na estação. Em dezembro, ela fechará para obras e só será reaberta em 2025.

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