Uma ponte, apenas uma ponte. E nem precisava ser grande, era só o suficiente para pessoas atravessarem um riacho a pé ou de bicicleta. Era isso o que a população dos bairros de Nova Esperança e São Luís queriam da prefeitura de Barra Mansa há anos, e nunca viam nada acontecer. O resultado eram longas caminhadas de 2 km apenas para dar a volta e chegar ao outro lado. Até que não deu mais para esperar.
A história viralizou nos últimos dias, com razão. É empolgante a história dos moradores que se mobilizaram para fazer com as próprias mãos – e os próprios bolsos – a passarela que o poder público se mostrava incapaz de entregar. Com uma rapidez incrível, oito dias de trabalho espalhados ao longo de um mês, e um preço absurdamente baixo diante do orçamento para a obra que a prefeitura pretendia fazer (R$ 5 mil contra R$ 270 mil).
As autoridades argumentaram que a diferença de custo se deveu ao fato de a obra feita pelos moradores não terem passado por controle técnico algum. De fato, a qualidade da obra precisa ser verificada, ainda mais no caso de uma ponte que passa sobre um riacho em uma região sujeita a chuvas fortes e deslizamentos durante o verão. No entanto, isso é apenas um item – e, convenhamos, atender às normas de segurança não justificam a diferença de 5.400% no custo – dentro de um contexto maior. E esse contexto maior deixa lições importantes ao poder público.
Basta olhar o mapa de Barra Mansa para identificar um problema entre os bairros de Nova Esperança e São Luís. Ambos ficam lado a lado, mas suas ruas parecem fadadas a jamais se encontrarem. A rua Florianópolis (limite de Nova Esperança) e a Tiradentes (limite de São Luís) não têm ligação. Para piorar, só um dos bairros tem posto de saúde e de retirada de remédios.
Isso tudo é possível identificar sem ao menos ir o local, só olhando o mapa e a lista de postos de saúde da cidade. Um gestor que analisasse as informações sentado em seu escritório já perceberia que há um problema em potencial naquela região, ainda mais depois de a filial local da Globo fazer reportagens sobre o caso. Com uma visita aos bairros e uma conversa com a população essa urgência se confirmaria, até porque os moradores já haviam improvisado uma ponte de madeira porque é quase inviável viver sem essa ligação.
Nem isso fez as autoridades saírem da letargia ou da burocracia. As pessoas têm de conviver com os problemas a cada dia e seus problemas precisam ser vistos ou respeitados. Até porque a questão não era algo abstrato ou grande demais, como a melhora da economia do país para reduzir o desemprego na região, era apenas uma ponte. Uma pequena ponte, de apenas cinco metros de extensão, mas que faz uma diferença enorme.
Por isso, mais que um exemplo louvável de mobilização, fica a lição de como o poder público precisa ter contato com as comunidades e entender suas necessidades. E não se deixar envolver por burocracia e papelada.