Mulheres e usuários de bicicletas compartilhadas sempre apareceram à margem de pesquisas sobre ciclistas paulistanos. Muito disso ocorria pelo fato de serem grupos minoritários, e dar volume – e validade estatística – a eles é um dos principais méritos de um novo relatório, divulgado na última semana pela Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade) em parceria com a ONG Transporte Ativo, sobre quem pedala em São Paulo.
A maioria das mulheres que participaram da pesquisa, 52%, cursaram o ensino superior, enquanto entre os homens predominaram aqueles que completaram o ensino médio como nível mais alto de escolaridade. Essa diferença pode ser explicada por outro dado, que aponta que a maior parte das ciclistas, 51%, se concentravam na área central da cidade, onde se concentram os entrevistados que completaram a graduação, enquanto os participantes do sexo masculino estavam mais uniformemente divididos entre as regiões do centro, intermediária e periférica.
A pesquisadora e integrante do Grupo de Trabalho de Gênero da Ciclocidade, Marina Harkot, aponta barreiras sociais e culturais como principais responsáveis pela baixa proporção de mulheres ciclistas, que respondem por 14% do total de participantes da pesquisa. Ela aponta que a porcentagem é ainda menor na região periférica.
A maior parte dos ciclistas, 27%, ganham entre um e dois salários mínimos, sendo que 57% dos entrevistados recebem até R$ 2.364 por mês. As três ocupações mais citadas pelos que participaram da pesquisa estão estudante (112 menções), auxiliar e professor. A pesquisa destaca que 103 entrevistados trabalham no setor automotivo, ou seja, são instrutores de autoescola, metalúrgicos, manobristas, mecânicos, motoristas ou funcionários de lava-jato.
Três quartos dos participantes afirmaram que usam a bicicleta como meio de locomoção pelo menos cinco vezes por semana. O trabalho é o principal destino dos ciclistas pesquisados, citado por 81%. Entre os entrevistados que usam a bicicleta como principal meio de transporte, a maioria recebe entre 1 e 2 salários mínimos, seguidos pelos que recebem de 2 a 3, que são em maior número em relação àqueles que recebem até R$ 880.
O estudo também mostra que ciclistas que usam a bicicleta há mais tempo tendem a pedalar com mais frequência. Entre os que disseram que usam o meio de transporte por 1 ou 2 dias da semana, 67% e 68%, respectivamente, pedalam há menos de um ano. A maior parte dos entrevistados respondeu que pedala há mais de cinco anos (29%), mas são seguidos por aqueles que usam esse meio de transporte há menos de seis meses (19%).
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Entre os usuários de bike sharing, a maior concentração respondeu que recorre às estações entre 1 e 3 dias semanalmente. A integração com outros meios de transporte é mais comum entre usuários de bicicletas compartilhadas (48%) que privadas (28%). Os usuários de bicicleta privada correspondem a apenas 3% dos entrevistados.
A proporção de ciclistas que responderam que não usam a bicicleta em combinação com outro meio de transporte não varia significativamente entre as áreas centrais, intermediárias e periféricas. A maioria (64%) pedala até 30 minutos em seu trajeto principal, sendo que 62% percorrem mais de 5 quilômetros.
Quase metade dos participantes da pesquisa disseram que optaram pela bicicleta como meio de locomoção porque é mais prático e rápido. A falta de respeito dos condutores de veículos motorizados foi citado por 36% como principal problema enfrentado nos trajetos. A falta de infraestrutura foi apontada como problema por 24% dos entrevistados, sendo que 49% disseram que pedalariam mais se a rede cicloviária passasse por melhorias.
A proporção de pessoas que disseram usar a rede cicloviária sempre ou quase sempre não difere significativamente das que afirmaram que pedalam na rua com a mesma frequência. Já os ciclistas que pedalam na calçada sempre correspondem a 10% do total, sendo que 32% admitiram que usam a estrutura às vezes. A segurança do percurso foi avaliada como regular por 41%, seguidos por 26% que classificaram as condições como ruins, sendo que 67% não recomendariam o caminho para uma criança ou idoso ciclista.
A melhoria mais desejada pelos ciclistas é a implantação de vias exclusivas. O levantamento aponta a maior concentração de pessoas que começaram a pedalar recentemente na região central como consequência da implantação das ciclovias e faixas nessa área. Apesar do principal destino dos ciclistas ser o trabalho, o fato de 58% deles afirmarem que pedalam para chegar até locais de lazer ou encontro social aponta uma demanda por infraestrutura adequada nesses estabelecimentos para receber quem anda de bicicleta.