Os números são astronômicos. A produção anual é de US$ 255 bilhões, gerando US$ 97 bilhões em impostos. No comércio de câmbio, são cerca de US$ 1 trilhão (isso mesmo, com “tr”) trocando de mãos por dia. Há vários outros exemplos, sempre com muitos zeros à direita. Esse é o tamanho do mercado de serviços financeiros de Londres, disparado o mais robusto da Europa e um dos maiores do mundo. Um gigantismo que pode sofrer abalos a partir desta quinta (23), depende apenas da opinião dos cidadãos britânicos.

O Reino Unido irá às urnas decidir se fica ou sai da União Europeia, o Brexit (abreviação de “British Exit”, “saída britânica”). As pesquisas mostram um equilíbrio maior que esperado, e cresce a preocupação dos bancos sobre o efeito disso. Afinal, Londres se tornou essa potência no setor bancário pela tradição e solidez de suas instituições centenárias, mas ela ganhou mais impulso quando se estabeleceu como capital financeira informal da Europa unificada.

Para uma empresa financeira trabalhar em todo o Espaço Econômico Europeu a partir de Londres, precisa ter a autorização de agências reguladoras britânicas, que concede uma permissão chamada de “passporting rights” (algo como “direitos de passaporte”). Esse mecanismo atrai vários bancos com sede fora da UE, como o JP Morgan Chase (americano), o Credit Suisse (suíço) e o Nomura (japonês). Todos estabeleceram um escritório na capital inglesa e comandam de lá suas operações no continente.

O problema é que, se o Reino Unido deixar a União Europeia, há uma boa chance de o passporting acabar. Afinal, os outros países da UE dificilmente abririam uma excessão aos britânicos, mantendo alguns dos privilégios de um membro do grupo. Afinal, isso poderia incentivar outras nações a deixarem o bloco.

Se isso ocorrer, vários bancos já disseram que reduzirão suas operações em Londres. O JP Morgan pode mudar-se para outra cidade. O Morgan Stanley e o Citigroup ameaçaram reduzir suas equipe na capital inglesa para deslocar certas áreas para algum país da UE.

Essa possibilidade já deixou algumas cidades com água na boca. A primeira a se pronunciar fortemente foi Paris. O vice-prefeito parisiense, Jean-Louis Missika, já disse que estende o tapete vermelho para qualquer empresa que se interessar em mudar suas operações para lá. A capital francesa tem a vantagem de ter uma posição central na Europa, ser uma metrópole global e servir como atrativo para funcionários de cargos altos e clientes. O HSBC já informou que realocaria mil postos de trabalho para a França caso o Brexit seja aprovado.

Frankfurt também aparece com força. A cidade alemã tem a vantagem de já sediar representações de vários bancos por ser sede do Banco Central Europeu e a capital financeira do país mais rico da UE. Além disso, também tem uma posição central no continente. No entanto, não se trata de uma megalópole global, mas uma metrópole regional de 2,2 milhões de habitantes em sua área urbana. O mercado imobiliário e a rede de transportes teriam dificuldade de absorver um afluxo grande de corporações e talvez não fosse o destino mais apetitoso para altos executivos.

Quem corre por fora na briga é Dublin. A Irlanda tem a seu favor o fato de ser um país de língua inglesa – para uma empresa que pretende transferir sua sede, seria uma mudança muito mais suave – e ter impostos mais baixos que França e Alemanha. O Citigroup já definiu que a capital irlandesa seria sede de suas operações europeias caso o Reino Unido deixe a UE.

O fato de três cidades estarem brigando e de instituições já terem demonstrado preferência por locais diferentes dão a entender que o brexit poderia descentralizar o mercado financeiro europeu. Cada banco poderia migrar para um lugar diferente, talvez com uma ou outra metrópole tendo um pouco mais de destaque. E é por esse posto que muita gente já está brigando. Seriam muitos bilhões de euros em busca de uma nova casa.