Já esqueceram

Epidemias e surtos de dengue já viraram um problema crônico dos verões brasileiros. Mas, em 2016, ela teve companhia: a zika e a chicungunha, também transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. A crise de saúde pública, que já era grave, ganhou novos elementos, como o grande número de crianças nascendo com microcefalia, sobretudo em comunidades carentes.

O crescimento de doenças como essas expõem o déficit do Brasil em saneamento básico e em um entendimento maior de como se fazer saúde pública. Um exemplo foi Campanário, cidade mineira com maior concentração de casos de dengue de superar a falta da água para que os moradores não precisem armazená-la em locais que são potenciais criadouros do mosquito. Mas temos razões para nos manter pessimistas, pois o tema esteve longe de ficar entre os mais destacados nos debates eleitorais de fim de ano.

Rio-2016

O ciclo de otimismo e crescimento econômico já tinha passado no Brasil, mas o último resquício dele estava marcado para agosto: os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Era uma boa oportunidade de o País mostrar sua vocação de grandiosidade, ser visto pelo mundo como uma força emergente e, principalmente, de elevar o patamar – urbanístico, social e turístico – de sua cidade mais famosa.

Os Jogos em si forma surpreendentemente bem sucedidos na organização esportiva e deixou imagens marcantes, como as cerimônias de abertura e encerramento. Mas o conceito de legado, ou o retorno de longo prazo que dependesse de um plano mais elaborado, ficou para trás. A zika afastou turistas estrangeiros (e o saldo final foi de zero infectado durante os Jogos, que ocorreram no inverno, época de baixa da doença), a Vila Olímpica não teve retorno social, o transporte público continuou bagunçado e de má qualidade, as arenas esportivas não tinham destino claro, as competições não ajudaram a levar mais esporte e lazer à população de baixa renda e a mobilização das Paraolimpíadas não tornaram as cidades brasileiras – e particularmente o Rio – mais acessíveis.

Eleições

Várias votações tiveram resultados inesperados ao longo do ano, incluindo a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia, a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e a escolha de alguns prefeitos pelo Brasil (se não pelo vencedor em si, pelos números finais). A surpresa se deveu muito pelo modo como as apurações tiveram resultados muito discrepantes com pesquisas de dias antes.

Isso chamou a atenção para a mudança do modo de agir do eleitor nos últimos anos, com um processo de decisão muito mais volátil do que antes. Um especialista alertou para a necessidade de pesquisas de intenção de voto serem mais imediatas. De qualquer forma, ao contrário do que alguns analistas ou mesmo partidários de candidatos derrotados argumentaram, as eleições municipais brasileiras tiveram resultados relativamente parecidos entre bairros centrais e periféricos na maioria das capitais brasileiras.

Mobilidade

Um debate que foi forte em 2016 e se ensaia ainda mais acalorado em 2017 é a questão do limite de velocidade nas avenidas das grandes cidades. A tendência mundial é de reduzir, e foi o que ocorreu em São Paulo. A maior parte da população aprovou, de acordo com uma pesquisa, mas o retorno aos limites anteriores foi uma das promessas do prefeito eleito João Doria Jr. Resultado: um aumento parcial, que pode ficar ainda mais confuso. O problema é que, acima de tudo, isso depende muito de como o brasileiro encara um deslocamento de carro.