Sheffield é uma das cidades que mais sofrem com desigualdade social na Inglaterra. Um título nada agradável para o município que ganhou força pela produção de aço durante a Revolução Industrial, sofreu uma longa crise no final do século passado e vive um período de crescimento econômico consistente nos últimos dez anos. Por isso, as autoridades locais criaram uma campanha envolvendo toda a população para reverter esse cenário.
A cidade juntou uma comissão de 23 representantes de setores como comércio, voluntariado, imprensa e igreja que para que eles formulassem juntos diretrizes para ações que promovam a justiça. Essas diretrizes também valem para o governo local, pois a ideia é que todos façam o que estiver ao seu alcance para diminuir as desigualdades.
A primeira das dez orientações é que aqueles em maior necessidade devem ter prioridade. As áreas sul e oeste da cidade estão entre as 20% mais favorecidas do país, enquanto mais de 30% da população em outras áreas que estão entre as 20% mais desfavorecidas. Segundo um relatório feito com base nas conclusões da comissão, isso faz da cidade uma das mais desiguais da Inglaterra. O estudo também reconhece que alguns grupos são desproporcionalmente afetados por essa desigualdade e admite que a inequidade no setor de saúde se dá em parte pelo acesso e pela qualidade dos serviços disponíveis em cada região.
O relatório sinaliza que o município tem, sim, alguma responsabilidade e capacidade de agir para se tornar um ambiente mais justo. Sheffield é a sexta cidade mais populosa da Inglaterra, com mais de 550 mil habitantes. Desde 2013, quando o relatório foi elaborado, as autoridades locais realizam uma revisão anual dos progressos alcançados na área. Abaixo o restante da lista de orientações para tomadores de decisões e cidadãos que foram feitas na ocasião:
– Aqueles com mais recursos devem fazer as maiores contribuições;
– O comprometimento com a justiça deve ser de longo-prazo;
– O comprometimento com a justiça deve valer para toda a cidade;
– Prevenir desigualdades é melhor que tentar remediá-las;
– Agir de maneira justa deve ser considerado como agir razoavelmente;
– Responsabilidade cívica: todos os residentes, para contribuir para uma cidade mais justa para todos os cidadãos, têm o que dizer a respeito de como a cidade funciona;
– A campanha por justiça na cidade tem caráter aberto e contínuo;
– Justiça deve ser questão de equilíbrio entre diferente grupos, comunidades e gerações na cidade;
– O compromisso da cidade com a justiça deve ser demonstrado e monitorado em um relatório anual.
Uma das medidas resultantes foi estabelecimento de um valor maior para o salário mínimo por grandes empregadores locais liderados pela Câmara Municipal. A Câmara de Comércio de Sheffield se encarregou de incentivar pequenos e grandes negócios a adotarem as novas cifras. A orientação para acesso igualitário a crédito, por sua vez, levou à criação do Shieffield Money para concorrer com agiotas que praticam altas taxas de juros. Também foi formulado um conjunto de princípios para o empregador justo com o objetivo de proporcionais condições melhores de trabalho, do qual grandes empresas e instituições da cidade são signatárias.
Os fundos para a saúde foram redistribuídos pelas regiões da cidade. Para reduzir o número de ocorrências de mortes e feridos no trânsito foi introduzido o limite de 32 km/h em algumas vias.
As medidas tomadas ainda não reduziram a desigualdade, mas podem ter ajudado a conter o aumento das disparidades. A campanha em Sheffield mostra que as cidades têm poder para agir contra a desigualdade e não apenas ser o local onde ela se faz mais evidente. Os resultados podem não ser imediatos ou expressivos, mas também podem servir de modelo para ações mais amplas para criação de ambientes mais justos para todos.