A cultura chinesa tem espaço para muitas superstições, como achar que o número 4, usar bigode e tocar a cabeça de uma pessoa com a vassoura são fontes de mau agouro. A lista de costumes é tão longa e inusitada que o site da embaixada da China nos Estados Unidos até criou uma página para explicar tudo o que é bom fazer ou evitar. Em um cenário como esse, dá para imaginar que muitas pessoas se sintam desconfortáveis em morar em imóveis onde ocorreram mortes. É o que acontece em Hong Kong, mas, em um mercado imobiliário cada vez mais disputado, o que é superstição para uns pode virar oportunidade de negócios para outros.

O site Spacius.hk mantém uma base de dados atualizada de imóveis que apareceram em relatórios policiais e notícias de acontecimentos trágicos em regiões supervalorizadas da cidade. O objetivo é atrair estrangeiros que buscam moradia acessível em uma das metrópoles mais caras do planeta e, claro, não liguem muito para superstições.

ADENSAMENTO: Falta espaço para os mortos descansarem em paz em Hong Kong

Os hung jaak, como são chamados em cantonês esses imóveis assombrados, perdem seu valor acentuadamente, dependendo de como cada um interpreta o feng shui. Um apartamento no J Residence – um dos prédios residenciais mais luxuosos de Hong Kong – que foi cenário do assassinato de duas mulheres em 2014, por exemplo, voltou ao mercado pela metade do preço.

O Spacius.hk se parece com outros sites de busca por imóveis, exceto que possui um filtro que se chama literalmente “assombrado”. Não é possível saber se negócios são realmente fechados a partir dali, porque a plataforma só indica o local da morte sobre um mapa com a descrição do evento, tentando não incluir maiores detalhes a respeito das vítimas. No entanto, o que se sabe é que esse filtro é usado aproximadamente 5 mil vezes por mês.

O feng shui é levado a sério pelos chineses, tanto que ele é considerado na hora de tomar decisões a respeito de plantas de apartamentos em áreas abastadas – o que pode incluir a vista da janela, para que lado se volta a sua frente, para onde se dirige o fluxo do andar. Tudo para garantir que nada obstrua o fluxo de energia. Em Hong Kong, qualquer um que tenha seu imóvel afetado por uma obra pública tem o direito de pedir uma compensação ao governo pelos danos causados à dispersão energética.

Claro que há muitos corretores de imóveis afoitos que espalham rumores sobre assombrações apenas para derrubar os valores de algumas propriedades. Boatos como esses podem derrubar o valor não apenas de um apartamento, mas de todos ao redor, o que torna iniciativas como o Spacius.hk especialmente problemáticas. A plataforma diz possuir um time que monitora ocorrências em moradias locais, e pretende expandir seus serviços para Xangai e Taipé.