Com serviço mais barato, mais pessoas podem usar o transporte individual ao invés de dirigir de volta para casa após uma noite no bar, diminuindo os acidentes. É uma linha de raciocínio adotada pelas empresas do setor, mas a chegada do Uber e do Lyft não tornou as ruas das grandes cidades americanas mais ou menos seguras à noite.

Um estudo publicado pela American Journal of Epidemiology concluiu que a chegada no Uber não tem nenhuma relação com o número de mortes no trânsito causadas por motoristas dirigindo alcoolizados ou em fim de semana e feriados. O motivo dessa pouca influência seria uma lógica simples: os motoristas alcoolizados considerariam que as chances de serem pegos dirigindo e bebendo é pequena diante da certeza de que eles terão que se submeter às tarifas do Uber ou de outra rede de transporte, pedir um favor a alguém, pagar o estacionamento ou mesmo rebocador caso decidam não pegar no volante.

Noli Brazil, do Instituto de Ciências Espaciais da Universidade do Sul da Califórnia e David S. Kirk, da Universidade de Oxford, analisaram dados das 100 áreas metropolitanas mais populosas dos Estados Unidos antes e depois da chegada do Uber entre 2005 e 2014. A pesquisa considerou ainda variáveis que poderiam afetar o risco de mortes no trânsito como a legislação estadual legalizando ou criminalizando a maconha, variações na emissão de carteiras de motorista e impostos cobrados sobre a venda de bebidas, entre outras.

Outro fator importante para a manutenção do cenário geral de acidentes de trânsito é que, mesmo nos Estados Unidos, o Uber ainda não tem motoristas suficientes para representar uma parte significativa do tráfego. Segundo dados de 2016 da empresa, cerca de 450 mil motoristas usam o aplicativo por mês no país, que tem 210 milhões de pessoas com carteira de habilitação. Entre elas, 4,2 milhões decidem dirigir sob o efeito de bebidas alcoólicas – muito mais do que a frota da empresa seria capaz de absorver.

 

Segundo a pesquisa, o Uber pode substituir os táxis, mas não a direção sob efeito do álcool. Mesmo que motoristas alcoolizados decidam usar o Uber – o que é considerado improvável, uma vez que eles não veem no Uber uma alternativa para não precisar dirigir – o número de motoristas que se colocam (e colocam os outros) em situação de risco não mudaria significativamente.

Além disso, as pessoas em grandes áreas metropolitanas possuem outras opções. Dificilmente os passageiros típicos de Uber são motoristas que optaram por não dirigir, mas sim, pessoas que já utilizavam outros meios de transporte como táxi, bicicleta, metrô, ônibus e ainda o fazem. Mesmo as pessoas que se locomovem dirigindo automóveis podem simplesmente não considerar o Uber como uma opção devido aos altos custos. Em áreas menores, com menos opções, a operação da empresa pode até chegar a fazer uma diferença, mas essa é uma questão que os pesquisadores desejam responder no futuro, com outras investigações.