O que é? Passar por um buraco na rua é um desconforto instantâneo e, dependendo do tamanho, pode até causar acidentes. É um choque tão imediato que, depois de avançar alguns metros sem surpresas, já nem lembramos do percalço encontrado pelo caminho. Essa efemeridade e a forma como as falhas na pavimentação se multiplicam fazem com que pareça uma perda de tempo ajudar a resolver o problema, mas alguém precisa fazê-lo. Camila Montagner listou algumas iniciativas simples e outras mais elaboradas que estão sendo testadas com o objetivo de agilizar as operações tapa-buracos para que todo mundo circule por aí sem ter que passar por tantos solavancos.

Entre o celular e o volante

Distante 400 quilômetros da capital paulista, a cidade de Franca abriu um canal de reclamações via WhatsApp no início de 2014 apenas para receber reclamações sobre a necessidade de manutenção das vias. Apelidado de TapZap, a iniciativa tinha o objetivo de agilizar a solução de problemas na pavimentação, estimulando a participação dos moradores. Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, são recebidas entre dez e quinze reclamações por dia, se somados os registros feitos pelo aplicativo àqueles realizados por ligação para o Disque Buracos. Esse número representa um aumento de 20% em relação à quantidade de solicitações feitas antes de o canal ser aberto.

Ainda de acordo com a assessoria, a reparação dessas falhas de pavimentação acontece em até 72 horas após o recebimento da reclamação pelos canais de atendimento. Além das solicitações feitas pelos moradores, “olheiros” também percorrem as ruas aleatoriamente para verificar as condições do asfalto.

Usar o WhatsApp tem melhorado a precisão das informações recebidas sobre a localização e tamanho das “panelas” (um nome simpático para buracos nas ruas), pois é possível enviar fotos, facilitando a ação da administração pública.

Outra ferramenta pensada para comunicar a localização de buracos não só para a prefeitura, mas também para quem passa pela via, é o Buracos Monitor. Desenvolvido por Bruno Klein, estudante de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, o aplicativo de mapeamento colaborativo mostra as falhas das vias e emite um sinal sonoro quando uma delas está próxima. É possível informar a ocorrência de buracos, classificar a falha na via como “nova” ou “crítica”, validar as contribuições feitas por outras pessoas e também registrar quando o problema é resolvido.

As próprias prefeituras podem ser parceiras do aplicativo gratuitamente para receber alertas sobre novos pins e atualizar o status do problema para resolvido, o que até agora tem sido feito apenas pelos próprios usuários. Lançado em 2014, o app está disponível para Android, mas ainda não tem versão para iOS. No site do Buracos Monitor há uma conta bancária para doações e uma lista com os nomes de apoiadores.

Em Franca, por exemplo, há dois buracos marcados como “abertos” e um como “consertado”. A cidade com mais “panelas” no aplicativo é Rio Branco, no Acre, com 420 marcações, seguida por Porto Alegre e outros municípios gaúchos. É possível registrar uma falha na pavimentação escolhendo um ponto sobre o mapa e também informar que há um buraco no local onde o usuário se encontra. O problema é que é preciso pegar o celular e contar para o aplicativo que ali tem uma falha na pavimentação, o que representa um risco para quem está dirigindo, mesmo nas ruas onde o asfalto está em boas condições.

Ajudar a prevenir sem precisar se arriscar

Boston é uma cidade americana com aproximadamente o dobro do número de habitantes de Franca. A prefeitura chegou a fechar mais de 10.000 buracos em um único semestre, e resolveu investir em tecnologia para fechar ainda mais panelas. Ela desenvolveu um aplicativo para celular com o objetivo de diminuir os custos e automatizar o processo de reconhecimento de falhas no pavimento das ruas.

Tráfego na Beacon Street em Boston (foto: Flickr)

Tráfego na Beacon Street, em Boston (foto: Flickr)

O Street Bump registra as informações sobre buracos sem que o motorista precise desviar a atenção da direção para que as informações sobre o buraco sejam registradas. Uma vez acionado antes da partida, ele inicia um registro dos movimentos do veículo utilizando funcionalidades que normalmente já estão presentes nos smartphones: o acelerômetro e o GPS.

Sem que o motorista precise mover um dedo, ele registra a localização no momento em que um impacto violento é sofrido e armazena essas informações. Depois de terminado o percurso, o usuário pode enviar a gravação para o departamento correspondente sem colocar sua segurança em risco.

Lançado em 2012, o app mantém sua taxa de falsos positivos, ou seja, registros de impactos que não são resultado de uma falha na pavimentação, abaixo de 10%. O algoritmo ainda está em processo de aprimoramento e este artigo, por exemplo, propõe o desenvolvimento de um sistema de reconhecimento para que a ferramenta perceba quando o impacto sofrido é resultado de um problema na via ou se trata de um obstáculo presente nas ruas para reduzir a velocidade do tráfego, como as lombadas.

Pedalando, registrando e sinalizando sem usar as mãos

Como os buracos nas vias não são um problema que incomoda apenas motoristas, tem mais gente buscando contribuir para diminuir as surpresas pelo caminho. Pensando no quanto as falhas na pavimentação desestabilizam e derrubam ciclistas, Florian Born, um estudante de design de interação de Berlim, desenvolveu um aplicativo similar ao Street Bump, o Auto-Complain, que  registra a intensidade do impacto sofrido quando a bicicleta passa por um buraco e faz o upload das informações para o site.

Quando chegar ao fim da pedalada, o ciclista pode fazer o download de um PDF com os dados coletados durante o trajeto e encaminhar para o departamento local correspondente. Fazer o download de um PDF não é tão prático, mas é o que dá para fazer por enquanto. Ou quase isso.

Apesar de o protótipo funcionar e ser possível acessar o site com o mapa localizando os buracos, o aplicativo ainda não está disponível para download. Em entrevista à Fast Company, o criador do software justificou a demora para liberar a ferramenta dizendo que precisa terminar seus estudos primeiro.

No entanto, o design dos suportes para celular e spray de tinta para bicicleta estão disponíveis para serem baixados e depois produzidos com impressoras 3D. Por que tinta? Para pintar um sinal na via e alertar aqueles que vierem pelo mesmo caminho – tudo sem mover um dedo, pois o app envia um sinal para o suporte que dispara a tinta quando o buraco é registrado.


Avisar é preciso

Passar por um buraco na rua é estressante e perigoso, mas também é o momento de pensar nos outros usuários da via. Cobrir falhas na pavimentação parece um trabalho ingrato: assim que uma cratera é tapada aqui, uma rachadura já começa a aparecer logo mais. Mas ter ruas melhores depende muito da vontade de cada um de ajudar, já que ainda não há meios práticos da administração pública sair procurando os buracos por aí a esmo.

Para se ter uma ideia do tamanho do problema: na cidade de São Paulo há mais de 17 mil quilômetros de vias pavimentadas. Só em 2015 foram aproximadamente 220 mil buracos tapados até o momento.

Segundo a assessoria da Secretaria das Subprefeituras, isso se deve à idade avançada da maioria das pavimentações, pois grande parte das principais vias possui 70 anos ou mais e não foram construídas para a intensidade atual de tráfego que recebem.

Quanto mais simples forem os meios de registrar esses problemas, mais gente estará disposta a ajudar. Afinal, ninguém se anima em ficar esperando por atendimento telefônico ou preenchendo longos formulários de reclamação. Uma vez que o celular tome conta de registrar e entregar dados precisos para quem faz a manutenção das vias, quem se depara com um buraco pode se preocupar com o que é mais imediato, que é avisar os usuários da rua que serão os próximos a passar por ali e, claro, chegar até o destino final em segurança.