Parece sensato pensar que quanto mais dados você tiver sobre um lugar, melhores serão as chances de ter uma boa experiência lá. Mas no caso de um alerta de área de risco emitido por um aplicativo apenas quando um de seus usuários se aproxima de carro de um local tachado pela própria ferramenta como perigoso, isso já não parece tão óbvio.

O alerta de risco foi disponibilizada pelo Waze apenas para usuários que circulam no Rio de Janeiro. A funcionalidade foi lançada no início de agosto, quando a capital fluminense sediou os Jogos Olímpicos, e pede que o motorista confirme se ele deseja seguir determinada rota caso ele passe por uma área marcada como perigosa. Caso o usuário esteja circulando sem uma rota determinada com aplicativo ligado se aproximar de algum desses locais, ele recebe uma notificação na tela e um aviso de voz. São 25 áreas marcadas “por terem maior índice de crime e menor quantidade de solicitações de rotas do Waze”, comunica a empresa.

A assessoria de imprensa do Waze informou por e-mail que não divulga quais as regiões onde o alerta aparece e que não é possível visualizá-las reduzindo o zoom no mapa. “Por respeito àqueles que moram nessas áreas, evitamos rotulá-los para população em geral no mapa ou em comentários”. Um site de notícias locais diz que a Rocinha foi marcada como um lugar perigoso e que os moradores não ficaram felizes com isso. Segundo texto publicado no Quartz, o Waze nega que o local esteja entre os marcados com alerta de risco.  Apesar de a empresa não divulgar oficialmente, o jornal O Dia chegou a publicar uma matéria com base em “fontes” sem identificação dizendo que Rocinha, Complexo do Alemão, Maré, Chapadão e Cajueiro estariam entre as áreas consideradas perigosas.

O Waze é um aplicativo de navegação no tráfego voltado para o transporte individual motorizado de propriedade do Google, uma empresa privada que disponibiliza informações no mapa conforme ela deseja que seus usuários as vejam. Logo, agora ela disponibiliza unicamente via Waze um alerta que, segundo a empresa, tem como base dados do Disque Denúncia e “de terceiros recebido de outros”. São essas fontes de informação que conferem credibilidade a informação e agregam valor ao próprio Waze. A empresa afirma que os dados incluem os seguintes crimes: roubo de carros, homicídios, assalto a carros, tráfico de drogas, entre outros.

O Disque Denúncia é uma organização sem fins lucrativos parceira da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Rio de Janeiro, órgão que “responde diretamente por despesas de pessoal (atendentes) e fornece o espaço”, conforme consta no site da instituição. Sobre a parceria com o Waze, o coordenador do Disque Denuncia disse apenas que “não tem autorização para comentar”.

Em 2011, o próprio Disque Denúncia chegou a disponibilizar uma plataforma para toda a população os avisos de ocorrências recebidos pela instituição no Rio de Janeiro dispostos sobre o Google Maps em tempo real, que também era resultado de uma parceria com outra empresa. A ferramenta, que foi extinta depois que a parceria acabou, também aceitava contribuições de usuários e era atualizada com um indicador de “deu certo” quando um problema era resolvido. No caso do Waze, funcionários da empresa e usuários assíduos promovidos a “editores” tiveram interferência na implementação dos alertas, desempenhando o papel de “cruzar referências”, nas palavras da empresa.

O Waze afirma que a marcação de regiões como perigosas em algumas áreas da cidade, feita com base em critérios nem um pouco claros, é uma resposta a solicitações dos “wazers” cariocas. Apesar disso, tudo indica que apenas a empresa será beneficiada, uma vez que não dá para dizer que a emissão de um alerta possa prevenir a violência, mas a empresa certamente dirá que o usuário foi avisado caso ele seja vítima de um crime enquanto circula com o aplicativo ligado, evitando ser responsabilizada por qualquer coisa caso algo realmente aconteça.