O que é? Neste mês de outubro, o CreativeMornings promove um encontro com os criadores do SP Invisível, um movimento que traz para as redes sociais as histórias das pessoas em situação de rua. Criado por Vinícius Lima e André Soler em 2014, o projeto é replicado em outras cidades brasileiras e já há páginas invisíveis de mais de 30 delas.
Além do que se vê
O SP Invisível começou como uma provocação nas redes sociais. Vinícius Lima e André Soler participaram de uma ação entre amigos para fotografar tudo o que fosse invisível em São Paulo para postar no Facebook e Instagram. Entre as fotos, havia retratos de pessoas em situação de rua, dessas que contrastam diretamente com o que nos acostumamos a ver em nossas timelines. Com o tempo, essa ação despretensiosa cresceu e virou um movimento para reunir histórias de quem vive nas ruas da maior cidade brasileira, o SP Invisível.
MAIS CREATIVE MORNINGS: Facundo Guerra, o Panda e a chave para decifrar São Paulo
Em vez de explorar a vulnerabilidade dos moradores de rua para fazer uma abordagem dramática, a dupla prefere abrir um diálogo para que eles deem vazão àquilo que realmente desejam expressar. Alguns deles protagonizam mais de uma postagem, como o Luciano, que teve dois momentos da sua história retratados pelo SP Invisível.
Vinícius conta que o movimento o fez ouvir abertamente os motivos que levaram cada uma das pessoas que retrata a viver nas ruas e algumas delas a usar drogas, a beber e até a cometer crimes. O SP Invisível publica uma nova postagem todos os dias e ele já perdeu a conta das pessoas em situação de rua com quem já conversou. A maioria deles é receptiva, mas alguns pedem para não serem fotografados porque a família não sabe que está nas ruas ou têm pendências legais.
O movimento é mantido por meio do trabalho voluntário de um grupo de cinco pessoas. O trabalho feito pelo SP Invisível já serviu de ponte para que um morador de rua, Adriano, encontrasse um lar na casa de amigos que souberam de sua situação por meio da página. Depois de conseguir um emprego, ele se mudou novamente e hoje mora sozinho em um apartamento. “Tem gente que nunca fica no mesmo ponto, mas o Adriano ficava. Isso fez com que fosse possível ajudar essas pessoas a encontrá-lo”, diz Vinícius.
A abordagem é bem descontraída, a gente senta no chão, dá um aperto de mão, explica o que é o SP Invisível. O que sai na página é apenas uma parte da conversa e com muitos eu encontro de novo e mostro a postagem que foi feita.
Vinícius Lima
Afastar pessoas em situação de rua de lugares movimentados e instalar equipamentos públicos planejados justamente para ninguém se deite ali – como os bancos com ondulações sobre os quais já falamos aqui no Outra Cidade – são alguns dos recursos que as cidades usam para tornar essas pessoas invisíveis. Trazer essas pessoas para a timeline e apresentar as suas necessidades pode levar os centros urbanos a se tornarem lugares menos hostis, senão mais acolhedores.
MORADIA: Dentinho se foi e deixou uma dor sobre habitação social
Amanhã é dia de continuar essa conversa sobre os pontos cegos das cidades em mais uma edição do CreativeMornings, onde Vinícius e André falarão sobre o trabalho do SP Invisível. O evento promove a troca de experiências, formando uma rede de pessoas que realizam produções criativas. Além de São Paulo, onde é produzido pelo Panda Criativo, o evento tem edições regulares em 119 cidades.
CreativeMornings de outubro:
|