Os micro-ônibus do Quênia são chamados de matatu porque usualmente cobravam uma tarifa três centavos nos anos 1960 e “tatu” quer dizer “três” em sheng, o dialeto das classes pobres urbanas de Nairobi que se tornou popular entre os jovens locais. Nenhum desses ônibus dá a partida antes de um número suficiente de passageiros embarcar. Suficiente, nesse caso, significa aproximadamente 20 pessoas. Em cada um há alguém que se dedica, aos gritos e batidas na lataria, a chamar os clientes.

Os veículos são identificados de acordo com a arte matatu que têm estampada na carroceria e chegam e a cobrar o dobro da tarifa em relação aos micro-ônibus monocromáticos. Mais populares, eles demoram menos para partir. Mais caros, restringem o acesso de quem não pode arcar com o custo extra de andar em ônibus coloridos que tocam música alta. Esses veículos chegaram a ser banidos por 10 anos por razões de segurança, uma vez que os artistas não se contentavam em pintar a lataria e cobriam janelas e parabrisas, limitando a visibilidade dos motoristas. Eles estão de volta, mas com a condição de não impedir que quem está dirigindo de enxergar o caminho.

Uma vantagem é que esses veículos são facilmente identificáveis: se um pedestre for vítima da arbitrariedade de um de seus motoristas, não precisará realizar o esforço de memorizar uma placa. O trânsito do país se tornou cinco vezes mais fatal ao longo dos últimos 30 anos, sendo que quase metade das 3 mil vítimas estavam a pé. De acordo os dados levantados pela Organização Mundial da Saúde em 2015, esse é o índice mais alto de mortalidade de pedestres no mundo – em média, no continente africano, eles correspondem a 39% das fatalidades no tráfego.

Dados sobre os atropelamentos na região estão sendo reunidos em uma plataforma colaborativa chamada Ma3Route, idealizada em Nairóbi. As informações coletadas ao longo de seis meses mostram que o local e horário mais perigoso para se estar nas ruas da cidade é na estrada de Mombasa às 7h de sexta-feira.

Em parceria com a pesquisadora de planejamento urbano Elizabeth Resor, o Ma3Route se desdobrou no projeto Mapa de Acidentes Nairobi, que organizou visualizações e análises dos dados levantados. Mais de 7 mil registros de aproximadamente 500 mil usuários serviram de base para concluir que as ocorrências são mais frequentes durante os horários de pico da manhã e da tarde – próximo das 7h ou das 17h – nas sextas e sábados. Apesar dos matatus carregarem a fama de serem negligentemente conduzidos, os carros particulares foram maioria entre os veículos envolvidos.

A maior parte dos registros são da periferia de Nairobi, nas regiões de Bellevue, Panari e GM. A capital foi a cidade com mais entradas na plataforma, seguida por Kiambu County, de onde muitas pessoas saem rumo a Nairobi, e Machakos. As informações coletadas também apontam que quase metade das ocorrências se dão em locais que ficam a até 500 metros de distância de pontes para pedestres, o que mostra que não é suficiente construir essas estruturas.

Com dados sistematizados para verificar onde são os pontos mais problemáticos da malha viária em mãos, os pedestres podem consultar onde é preciso tomar mais cuidado. Outra possibilidade para essas informações coletadas coletivamente é servir como ferramenta para organizações reivindicarem e governos pensarem a elaboração de políticas urbanas para que o trânsito do país se torne menos fatal.