O Exploradores da Rua é uma atividade educativa realizada pelos membros do grupo de estudos em mobilidade Apē. A ideia é envolver a comunidade escolar na organização saídas com os alunos com para colocar as crianças em contato com a área do entorno da escola, diluindo a barreira que separa o que é “dentro” e o que é “fora”. A maneira escolhida pelo grupo para fazer isso é realizar trajetos a pé inspirados no pedibus, caminhada de pais com crianças para realizar o deslocamento entre casa e escola.

A iniciativa começou como resultado de uma parceria entre o Instituto Tomie Ohtake, com os alunos da escola estadual Brasílio Machado, na Vila Madalena, indo até a instituição, em Pinheiros. “O objetivo é construir a possibilidade da rua ser uma extensão da escola, um espaço para a educação”, conta Carolina Barreiros, arquiteta que faz parte do grupo Apē. Antes das saídas com as crianças, elas participam de reuniões nas quais são apresentadas a exploradores que vão de Charles Darwin a Tintim, o aventureiro da série de histórias em quadrinhos.

Depois de serem introduzidas aos requisitos necessários para se tornarem exploradoras, como a atenção e a curiosidade, as crianças saem para realizar a atividade, que dura no mínimo 40 minutos e inclui paradas pelo caminho. O percurso é definido em conjunto com os professores e a intenção é envolver, na medida do possível, também os pais. A saída é feita em grupos com 10 a 15 crianças, o que facilita as conversas e faz com que elas tenham uma percebam melhor o que acontece ao redor.

Além dessa primeira escola, o grupo também realizou saídas com os alunos de outras três escolas municipais de educação infantil: Armando Arruda, na República; Antonio Figueiredo, na Barra Funda; e Alberto Oliveira, no Glicério. Com o fim parceria com o Instituto Tomie Ohtake, em julho de 2015, os destinos das caminhadas foram variando: as crianças da Armando Arruda, por exemplo, caminharam até o Teatro Municipal, por onde muitas delas passavam todos os dias, mas nunca tinham entrado. As duas últimas escolas definiram os pontos finais da atividade com participação mais ativa dos professores.

O resultado foi que as crianças conheceram lugares que são mais frequentados pela comunidade escolar: uma Unidade Básica de Saúde, a feira e uma praça. A princípio, pelo menos um membro do Apē e um adulto da escola acompanhavam cada grupo. “É muito bom ver que, mesmo que não acompanhando sempre – o que não é o objetivo –, foi criado esse hábito de circular com os alunos”. A Armando Arruda já realizava saídas até a biblioteca infantojuvenil Monteiro Lobato antes mesmo de receber o Exploradores da Rua, e continuou a fazê-lo depois da última atividade realizada ali pelo Apē. A Alberto Oliveira participa de um cortejo que é realizado em conjunto com outras instituições de ensino. A primeira escola que recebeu o projeto continua realizando caminhadas até o Instituto Tomie Ohtake.

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Já a Antonio Figueiredo realiza oficinas com temáticas com os alunos regularmente e tomou a iniciativa de chamar o Apē para trabalhar esses temas com as crianças na rua. “As crianças vão fazer atividades complementares a essas oficinas: sentar na calçada e desenhar, tirar fotos, ter contato com o que existe no entorno da escola. É muito importante a gente se perguntar sempre porque achamos importante que as crianças andem na rua. É interessante conseguir explicar porque fazemos isso para que esse projeto não se torne uma vontade vazia – cada lugar tem maneiras de caminhar e tentamos ser sensíveis a isso”.

O grupo de estudos que começou suas atividades em 2012 e criou o Exploradores da Rua em 2015, inicialmente ligado à escola Politécnica da USP. As reuniões são abertas para quem quiser participar e a agenda é publicada na sua página no Facebook. Além de arquitetos, atualmente designers, engenheiros e jornalistas trabalham em conjunto no Apē.